Patina
o ensino técnico
02/04/2012
A
implantação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) paga o preço da imprevidência. Lançado há um ano,
previa oferecer 8 milhões de vagas no ensino
profissionalizante até 2014. Balanço parcial do Ministério da Educação acende a
luz vermelha. Em 2011, os interessados contaram com apenas 617 mil vagas.
Muitas são as causas da marcha lenta do projeto que representa a esperança de
alargar um dos mais apertados gargalos da indústria nacional — a falta de mão
de obra especializada. Entre eles, o atraso nas obras de expansão dos
institutos federais, a escassez de professores especializados e a qualidade dos
técnicos formados, incompatível com as exigências do mercado.
Analisadas
com atenção, as razões da semiparalisia têm um denominador comum. Trata-se da
ausência de planejamento. A imprevidência é uma das marcas mais emblemáticas do
Brasil. Com a nefasta cultura do jeitinho, o país não programa o
desenvolvimento. Confia na sorte ou espera os ventos soprarem para tomar esta
ou aquela direção. Ocorre que o fado nem sempre sorri. E brisas se transformam
em tempestades sem que a meteorologia perceba a mudança. As consequências, como
lembra o conselheiro Acácio, vêm depois. Dar-lhes resposta adequada exige
urgência. A improvisação torna-se a palavra-chave. Sob o comando de achismos, falta de profissionalismo e interesses nem sempre
republicamos, abrem-se as porteiras para o desperdício e a corrupção. Obras
emergenciais, que dispensam licitação, multiplicam o valor do produto e
comprometem a qualidade. A sociedade perde para que poucos ganhem.
Não
só. A falta de planejamento responde pela crise da infraestrutura. Estradas,
hospitais, portos, aeroportos e energia não acompanharam o crescimento do país
e da população. Vivemos hoje situação comparável à da criança que cresceu, mas
os pais não lhe renovaram as roupas nem os móveis. O adulto se aperta em traje de
criança. O corpo de 1,80m se encolhe para caber no berço.
O
Brasil já teve escola pública de qualidade, saúde pública de excelência,
estradas suficientes, aeroportos aptos a atender as companhias aéreas e os
passageiros com segurança, conforto e pontualidade. Sem olhar para a frente, o país se conformou com o já feito. Agora, ao
se dar conta da explosão da demanda, precisa recuperar o tempo perdido. Mas
encontra pedras no caminho. Entre elas, a falta de profissionais aptos a
responder aos novos desafios. Como recursos humanos não se compram em
supermercado, há que formá-los. Trata-se de processo lento. Dispor de
professores, engenheiros, médicos, biólogos e tantos outros profissionais
exigidos pelo mercado da sexta economia do mundo levará tempo — o bem mais
escasso diante das urgências nacionais. O marcapasso
das escolas técnicas se enquadra nessa realidade. A maria-fumaça impede o
trem-bala de avançar.
O Estado de Minas -
Belo Horizonte, MG
Editorial