Oportunidade
para jovens, MEC vai ampliar vagas em programa
18/12/2012
Rosália
Oliveira dos Santos morava com os avós em Nova Itarana,
cidade de pouco mais de 7,4 mil habitantes localizada no
interior da Bahia. Tinha 16 anos e cursava a 5ª série. Pouco dinheiro e
muitas dificuldades a fizeram tomar uma decisão: deixaria a casa dos avós em
busca de emprego em outro lugar. Largou os estudos, arrumou as malas e partiu
rumo à Feira de Santana, onde começou a trabalhar na casa de uma família.
Exausta após rotinas que começavam antes do nascer do sol e terminavam apenas
no início da noite, deixou a escola para trás.
Histórias
como a da baiana Rosália se repetem todos os dias. Os motivos que levam alguém
a abandonar a sala de aula são variados: gravidez, trabalho, violência, drogas,
problemas familiares. Ajudar esses jovens a concluir o ensino fundamental é o
objetivo do Programa Nacional de Inclusão de Jovens, o ProJovem Integrado. A iniciativa é dividida em quatro
modalidades: ProJovem
Adolescente, voltado ao público de 15 a 17 anos; ProJovem
Campo, focado em jovens agricultores familiares de 18 a 29 anos; ProJovem Trabalhador, que atende desempregados entre 18 e
29 anos; e ProJovem Urbano,
que permitiu que, aos 29 anos, Rosália voltasse a estudar.
O
programa tem duração de 18 meses, durante os quais estudantes acompanham as
matérias lecionadas durante todo o ensino fundamental - o que, ao final,
garante um certificado de conclusão de curso. Geralmente no período da noite, a
grade curricular dá conta de aulas de português, inglês, matemática, ciências
humanas e ciências da natureza, além de treinamento em informática, formação
profissional inicial e atividades de participação cidadã. No caso do ProJovem Urbano, quem cumpre 75%
de frequência e realiza as atividades requisitadas tem direito a um benefício
mensal de R$ 100. A iniciativa é desenvolvida desde 2011 pela
Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(Secadi) do o Ministério da Educação (MEC). Em anos
anteriores, jovens que não haviam concluído o 9º ano participavam de outros
projetos, que hoje foram o ProJovem
Integrado. De acordo com o MEC, 307 municípios brasileiros estão envolvidos no
projeto em 2012, totalizando 91,4 mil matrículas ativas. Para o próximo ano,
mais vagas devem ser abertas, mas o MEC não informou quantas seriam.
A
iniciativa atende, na mesma turma, alunos que pararam de estudar em anos
diferentes, mas a coordenadora geral do programa na cidade de Juiz de Fora
(MG), Jussaramar da Silva, garante que o material didático
foi projetado para atender a níveis diferentes de demanda. `O ProJovem titula em ensino
fundamental, não em séries. O material é pensado de maneira que o aluno não
tenha dificuldades para acompanhar`,
diz. Em português, por exemplo, as primeiras aulas lançam luz a um conteúdo
primário: separação de sílabas. `É o tipo de matéria que vale mesmo para quem
já viu, porque muitos deles não conseguiram absorver antes`, afirma. Em vez de juntar as sílabas de `casa`
e `mamãe`, como textos infantis dos anos iniciais, os
jovens se deparam com materiais voltados a suas realidades. O mesmo acontece
nas outras aulas, ao longo de todo o curso. `A grande
diferença é que tudo é norteado por questões da juventude. O aluno não fica com
a impressão de que está dando um passo para trás, voltando à alfabetização`, destaca.
Oficinas profissionais
visam a inserir alunos no mercado de trabalho
Os
1,2 mil alunos atendidos em Feira de Santana estão divididos em 30 turmas,
distribuídas entre seis escolas. Além da estrutura curricular, igual em todas
as instituições, são oferecidos diferentes arcos ocupacionais, voltados à
profissionalização. Na cidade baiana, são três: alimentação, gráfica e
construção e reparo. O primeiro arco está ligado à produção de doces e salgados
e às funções de chapista, cozinheiro auxiliar, repositor de mercadorias e vendedor ambulante. Na parte
gráfica, os alunos são capacitados para trabalhar como guilhotineiro,
encadernador, impressor e operador de acabamento. O arco de construção e reparo
traz noções sobre o trabalho como ladrilheiro, gesseiro
e pintor.
`O
programa tem outras dimensões, não só as disciplinas específicas do ensino
fundamental, o aluno recupera muito tempo perdido e sai mais preparado,
inserido na sociedade, tendo aprendido um ofício. Seus horizontes são maiores`, diz a coordenadora geral
do programa em Feira de Santana, Isabella Santana de Carvalho. De acordo com
ela, a evasão na cidade fica em torno de 30%. `Tem gente que trabalha muito e
está cansado à noite, ou tem medo de sair de casa por conta da violência`, explica.
Foram
as dificuldades em achar um trabalho que motivaram Rosália a voltar a estudar.
Mas como tantas garotas na sua situação, a baiana, que hoje estuda na Escola
Ester da Silva Santana, engravidou antes de terminar os estudos, o que adiou
ainda mais sua volta ao ambiente escolar. Hoje, aos nove anos, a filha é uma
das grandes incentivadoras do novo projeto da mãe. `No
início, ela e o meu esposo acharam estranho, ele tinha medo da violência, de eu
sair sozinha à noite. Mas é tudo tão bom, sei que estou crescendo e não penso
em desistir. Vou até o final`,
diz. Com o certificado em mãos, no final do ano que vem, a dona de casa deve
começar a procurar emprego. `Não dá mais para ficar só
em casa. Com estudo, tudo vai ficar mais fácil`,
acredita.
Em
outros municípios, quem participa do ProJovem
tem aulas teóricas e práticas voltadas a áreas como administração, arte e
cultura, educação, esporte e lazer, joalheria, madeira e móveis, metalmecânica, saúde, serviços domésticos, transporte e
turismo. `O objetivo dos arcos ocupacionais é dar o
primeiro passo na formação profissional dos jovens, para que ele se especialize
depois. Mas essa é uma qualificação inicial. O aluno não sai com curso técnico`, diz a coordenadora Jussaramar. Em Juiz de Fora, além de alimentação e
construções e reparos II, que dá credenciamento para trabalhar com instalações
elétricas, de segurança, de linhas e aparelhos de telecomunicações e de
manutenção de edificações, há um núcleo de serviços pessoais, voltado à beleza.
Escolas promovem ações
de cidadania
Além
de oferecer a chance de concluir o ensino fundamental, o ProJovem tem o objetivo de transformar seus alunos em
pessoas atuantes em sua comunidade. As atividades de participação cidadã exigem
que jovens voltem a atenção a sua rua ou seu bairro.
Ao todo, são 2 mil horas de curso - 1.440 horas
profissionais e 560 extraclasse. De acordo com Jussaramar,
as escolas de Juiz de Fora têm trabalhado com produção cultural. `Vamos fazer um sarau literário, onde os alunos vão ler
poesias de sua autoria. Também promovemos ações ligadas à fotografia, cujo eixo
norteador foi a questão da violência na cidade`,
explica.
Na
Escola Municipal Ester da Silva Santana, as ações também estão voltadas ao
combate à violência. A institução, que fica em um dos
bairros mais violentos de Feira de Santana, tem promovido debates e
manifestações para promover a paz. `É uma ação de toda escola, e os alunos do ProJovem estão inseridos nisso. Há
uma linha de acolhimento que nos ajuda inclusive a diminuir a evasão`, diz. Em novembro, os
alunos do programa participaram da Semana da Consciência Negra.
CARTOLA - AGÊNCIA DE
CONTEÚDO - TERRA EDUCAÇÃO - SÃO PAULO, SP