Inclusão escolar

Determinação motiva jovens do Pará a vencer barreiras em busca de uma vida melhor

10.09.2009

 

Gabriel, 29 anos, matriculado no ProJovem em Tailândia (PA) é o primeiro a chegar a sala de aula: só faltou uma vez para assistir ao jogo do Palmeiras. Mãe solteira e desempregada, Ronicleide vai dar continuidade aos estudos interrompidos na 5ª série, nem que tenha de levar os filhos juntos à escola. O professor Wagner Araújo sente orgulho dos alunos do ProJovem e satisfação pelo rendimento da turma em Tailândia.

O relato das pessoas que fazem parte do Programa Nacional de Inclusão de Jovens - ProJovem Urbano no Pará revela o ciclo de gerações excluídas do processo regular de ensino. Mas expõe também a determinação dos novos alunos em ultrapassar a imposição histórica e a capacidade do programa de promover a transformação social.

Os pais de Ivanete dos Santos Salgado, de 28 anos, são analfabetos. Ela estudou até a 6ª série, em Tailândia. Antônio Silva Reis, de 21, diz que a mãe cursou até a 5ª série e o pai não teve estudo algum. Ele também deixou de frequentar as aulas para trabalhar, ainda no Maranhão.

Agora casados, Ivanete e Antônio retomam a formação pelo Projovem Urbano e estimulam os filhos a serem dedicados na escola. Os dois mais velhos já frequentam as aulas. "Queremos dar a eles a chance que nós não tivemos", afirma Ivanete.

Gabriel Ferreira Sobrinho tem 29 anos e menos estudo que os pais. Ele não concluiu nem a 2ª série; a mãe foi até a 7ª. O pai, ele não lembra bem. Gabriel conta que deixou de ir à escola para trabalhar com o pai; já a mãe afirma que ele saiu porque era mesmo muito brigão. Fez uma tentativa de retorno alguns anos depois, mas com a chegada do cinema na vila Quatro Bocas, próxima à Tomé Açu, onde morava à época, preferiu trabalhar de dia e assistir aos filmes de noite.

"Quando soube do Projovem, aqui em Tailândia, me animei. Sou bom de leitura, mas muito ruim de 'escritura'. Não vejo a hora de aprender logo. Sou sempre o primeiro a chegar na escola. Só faltei uma vez, porque queria assistir ao jogo do Palmeiras", Gabriel.

Dois dos três filhos de Ronicleide dos Santos da Gama, de 23 anos, já estão na escola. Ela reconhece a importância da formação e está determinada a retomar a sua, interrompida na 5ª série. Mãe solteira e desempregada, Ronicleide faz como boa parte dos outros alunos quando vai às aulas noturnas: leva os filhos na sua. A mais nova, Alexandra, de 1 ano e três meses, vai no carrinho. Erick, de 4 anos, e Patrick, de 6, gastam energia até cansar na área da Escola Municipal Ezequiel Alves dos Ramos.

"Para mim, o Projovem foi um grande presente. Faço o que posso e o que não posso para não faltar. O estudo é o principal na nossa vida. Até para roçar uma juquira tem que ter estudo", diz Ronicleide. Ela engravidou a primeira vez com 15 anos e ficou com vergonha de ir para a escola "de barriga".

A dedicação de Ronicleide tem rendido bons resultados. Professor de inglês, Wagner Araújo diz ter dado nota 10 para ela, com muito orgulho, na última avaliação. É fruto do esforço pelo aprendizado, garante ele. E diz o mesmo de Gabriel, que é estimulado a novos aprendizados a partir da fluência na leitura.

Segundo Wagner, "nos cursos convencionais, as dificuldades dos estudantes são mais valorizadas do que suas potencialidades. Aqui no Projovem, não. É o inverso. Me sinto numa elite, me sinto realmente funcionário da educação. E o esforço tem sido de todos; a coordenação está totalmente empenhada para que dê certo".

 

Texto: Erika Morhy - Casa Civil da Governadoria do Pará

 

Fonte:

http://www.projovemurbano.gov.br/site/interna.php?p=material&tipo=Noticias&cod=797