Evasão é um dos grandes problemas do ProJovem Urbano

18/12/2012

 

Um novo emprego, um filho ou uma oportunidade em outra cidade são capazes de alterar significativamente a rotina de alguém - quase sempre, para melhor. Mas, para quem decide voltar à escola depois de anos longe da sala de aula, uma mudança inesperada pode significar novamente o fim do sonho de concluir os estudos. É o que acontece com muitos dos alunos do ProJovem Urbano, programa do Ministério da Educação (MEC) que confere certificação em ensino fundamental para jovens de 18 a 29 anos que concluírem 18 meses de lições teóricas e práticas sobre disciplinas do currículo tradicional e mercado de trabalho.

Foi difícil reunir alunos para as aulas na Escola Municipal de Tejipió, no Recife. Das 175 vagas abertas para a turma da metade do ano, apenas 110 foram preenchidas. Hoje, cerca de 50 jovens participam das atividades, no período da noite. `Tivemos um número muito grande de desistências, o que até é considerado normal em um programa para regularização escolar. Muita gente desiste no meio do caminho`, diz a vice-diretora da instituição, Marcelle Pereira. O MEC não tem números a respeito de evasão, de acordo com sua assessoria de imprensa.

Além de problemas familiares ou esgotamento por jornadas de trabalho extensas, a professora acredita que o programa apresenta outras carências. `Quem volta para a escola já tem outra vivência, e eles demoram a se readequar à rotina escolar, ainda que ela seja diferenciada`, afirma. Além das disciplinas tradicionais de ensino fundamental - matemática, português, inglês, ciências humanas e ciências da natureza -, os jovens têm treinamento em informática, aulas de formação profissional inicial e atividades de participação cidadã.

Mas, para a professora, a estratégia não vem sendo suficiente para motivar os alunos. Na escola de Tejipió, Marcelle acredita que as lições iniciais sobre mercado de trabalho não têm despertado muito interesse. `Eles se preocupam muito com o que vai acontecer depois, e cobram o fato de que as aulas práticas ficam para o final do programa. Nosso arco ocupacional é telemática, mas eles só vão ter noções práticas disso no final. Muitos desistem por não se sentirem estimulados`, diz.

A coordenadora geral do ProJovem em Recife, Clara Siqueira, afirma que os alunos começam tendo aulas teóricas, para depois partir à parte prática. `Agora, eles estão vendo o mundo do trabalho de forma geral`, diz. Ainda assim, Clara afirma que o objetivo do programa não é formar profissionais especializados, mas apenas qualificá-los inicialmente. `Os alunos sabem que a expectativa não é de sair como um profissional, mas dar um passo ao ensino médio e, quem sabe, ao técnico, que vai preparar mais`, explica.

 

Escola entra em contato com aluno que falta demais

Das 90 vagas iniciais da Escola Municipal Mario Claudio, no Rio de Janeiro, restam apenas 35 alunos. Encontrar um emprego é o principal motivo pelo qual os jovens desistem do diploma. Segundo a professora Lucia Teresinha de Souza Oliveira, a carreira profissional parece ser mais importante do que a formação escolar. `Muitos não conseguem compreender que trabalho e estudo andam lado a lado`, diz. Para evitar que o número de alunos que cumprem as horas previstas para conquistar a ceriticação seja ainda menor, a escola tem promovido ações para inseri-los na comunidade. `Promovemos passeios, idas a teatros, ao planetário. Queremos mostrar o quanto é importante que eles estejam engajados, que estejam munidos culturalmente. Nosso objetivo é fazer com que eles entendam que o estudo traz crescimento não só financeiro e profissional, mas também pessoal`, afirma.

Em alguns casos, no entanto, a desistência acaba sendo inevitável. Antes disso, porém, assistentes sociais, professores e diretores tentam buscar respostas para faltas constantes e demonstrações de descontentamento. Em caso de doenças, por exemplo, o aluno tem a chance de realizar atividades de casa - tudo para não perder o diploma. `Nós lidamos com metodologia apropriada, trazemos atividades direcionadas. Mas esse é um direito do jovem, não o dever. Ele pode escolher não estudar`, diz Clara.

 

CARTOLA - AGÊNCIA DE CONTEÚDO - TERRA EDUCAÇÃO - SÃO PAULO, SP