Crianças no ProJovem
05/03/2007
São oito e meia da noite. Um professor em pé na frente da sala explica um assunto desconhecido. O dia de trabalho foi duro. Uma série de obrigações, na maioria das vezes inadiáveis, teve que ser cumprida até àquela hora. A distância entre o trabalho, a parada do ônibus e o local da aula foi percorrida no meio de um trânsito conturbado.
O ônibus estava lotado e parou de três em três minutos, por no mínimo dez vezes, até chegar perto da escola. Nessas horas a pontualidade é um detalhe que passa totalmente despercebido. Na bolsa, cadernos e livros se juntam às fraldas e mamadeiras. E por último, um grande “acessório”, de no mínimo cinco kilos, que fala, anda e pede atenção o tempo todo: uma criança.
Essas são algumas barreiras e pressões que precisam ser vencidas diariamente por alunos que querem e precisam estudar. Dispersão, falta de atenção e dificuldade de aprendizagem são as conseqüências constatadas por professores e coordenadores. Alunos que não tem onde e com quem deixar os filhos são uma realidade no ProJovem de todo o Brasil. Muitos são os jovens que levam os filhos para a escola. E essas crianças precisam e requerem cuidados.
Criança dentro de uma sala de aula de adultos é o centro das atenções. Isso é um fato. É difícil ver um menino comportado enquanto o professor e aluno se esforçam para lidar e tratar essa situação com naturalidade. É muita informação ao mesmo tempo e a concentração e o aprendizado ficam comprometidos.
Educriança
Em Guarulhos, região metropolitana de São Paulo, há vinte quilômetros do centro da capital paulista, a Secretaria de Educação do município desenvolveu uma alternativa para esse fato, o Educriança.
Segundo a coordenadora de Ação Comunitária do ProJovem no município, Divaneide Alves, em um período de aproximadamente vinte anos só existiam seis creches em toda a cidade. “Da necessidade surgiu a idéia desse projeto”, afirma ela.
O Educriança, implantado em 2002, funciona como uma bolsa-creche, no valor de R$ 50, e auxilia jovens desempregadas que precisam cuidar dos filhos. O projeto incentiva às mães a cuidarem das crianças. Na prática, o dinheiro serve de ajuda na contratação de outra pessoa para que a mãe possa estudar.
“O Educriança é uma alternativa às creches”, analisa Divaneide. “As mães passam por um processo seletivo, seu perfil é analisado e as crianças não podem estar em nenhuma creche ou fazer parte de outro projeto social”, explica. As mães e babás recebem capacitação para lidar com crianças, aprendem atividades pedagógicas e recebem um certificado após a participação no projeto.
Recreador
Em Embu das Artes, também no estado de São Paulo, os professores apontaram as dificuldades das mães em conciliar as atividades dentro de sala e ao mesmo tempo dar atenção aos meninos. Os professores e a Coordenação Municipal levaram a idéia de um espaço exclusivo dentro da escola para crianças ao Comitê Gestor do Programa no município. O Comitê aprovou a idéia e surgiu, então, o projeto Recreação.
O Recreação teve sua estréia em janeiro deste ano. As mães levam seus filhos para a escola e lá encontram um espaço seguro onde podem deixar as crianças. Estagiários de Pedagogia contratados pela prefeitura foram remanejados e ficaram responsáveis por cuidar e desenvolver atividades lúdicas e recreativas com esses meninos.
“Enquanto as mães estão se concentrando nos estudos e nas atividades, os filhos estão em segurança, ocupando o tempo de forma saudável e construtiva”, afirma a Coordenadora de Ação Comunitária do ProJovem no município, Cleide Alves.
“A criança dificulta e dispersa a atenção dentro de uma sala de aula”, aponta Cleide. “Muitas vezes, durante a aula, a aluna tem que parar para amamentar um bebê”, explica. Como exemplo, ela cita um núcleo na cidade em que 25 crianças acompanham suas mães à escola.
“Foi a partir da quantidade de crianças nas escolas que surgiu essa idéia. É uma continuidade da política de juventude. As educadoras do projeto “Recreador”, já foram capacitadas por outros projetos do Governo Federal e podem contribuir para a continuidade do ProJovem”, afirma Cleide.
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