Uso
de exame para avaliar educação básica pode gerar distorção
23/08/2012
O
uso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no cálculo do Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), proposto
pelo ministro Aloizio Mercadante, pode não representar a realidade de todas as
escolas do País. No exame de 2010, o último com os dados disponíveis, 60% das
escolas tiveram menos da metade dos alunos no Enem. Em
apenas 7,6% das unidades mais de 90% dos alunos fizeram o exame.
Estados
em que as escolas tiveram menor participação também registraram as mais baixas
notas no Ideb. Em Alagoas - que tem o pior índice do
País (2,6,) -, 77,9% das escolas não tiveram nem
metade dos estudantes no Enem. Logo em seguida, vêm o Amapá e o Pará, com pouca
adesão e notas abaixo da média nacional.
Os
dados mostram que não é totalmente certa a teoria de que o Enem tem
representatividade censitária, como defende Mercadante. Além disso, o exame é
feito por alunos mais preparados, mais focados na universidade, e as piores
escolas têm uma proporção menor de alunos no exame. Isso também explica a
melhora de desempenho maior do que a registrada no atual modelo de amostragem
do Ideb, o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb), composta de 70 mil alunos. A partir
disso são calculadas as médias estaduais.
Um
levantamento feito pelo economista Ernesto Martins Faria, do blog Estudando
Educação, mostrou que as escolas têm menor participação são as que têm mais
alunos atrasados e vulneráveis socialmente e, consequentemente, piores notas.
Segundo
um ex-funcionário do alto escalão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep), o problema de adotar o Enem é a
abrangência. `Quem faz o Enem são os melhores alunos em geral, o que beneficia
as piores escolas`, diz ele,
que pediu anonimato. `Mas é importante manter o que já existe com o Saeb.`
No
Enem 2010, 1.011.952 concluintes fizeram o exame. O MEC defende que, em 2011,
1,5 milhão de inscritos eram concluintes. Em média, formam-se no 3.º ano 1,8
milhão de alunos.
O
professor da Federal de Minas Gerais Francisco Soares defende a medida e diz
ser possível conciliar as réguas do Enem e do Saeb.
Segundo ele, há riscos de desvios nas notas, mas isso também ocorre hoje. `Não há empenho do aluno em uma prova que não vale nada para
ele, ao contrário do Enem. Mas tudo tem soluções técnicas, como escolher
escolas que representem a realidade. E é importante não passar a ideia de
querer só melhor a nota.`
A
mudança pode possibilitar a divulgação do Ideb por
escola. Segundo Soares, isso é positivo caso haja soluções que evitem a seleção
de alunos para inflar a nota.
Mercadante
deu 60 dias para o Inep apresentar um estudo de
compatibilização das duas réguas de notas.
OCIMARA BALMANT, PAULO
SALDAÑA - O Estado de São Paulo - São Paulo, SP