Portal Universia, 10/10/2005
As universidades trabalhando pelo fim do
analfabetismo
Dados divulgados pelo
Instituto Paulo Montenegro mostram que 75% da população entre 15 e 64 anos são
consideradas alfabetizadas funcionais
Apesar dos esforços em erradicar o analfabetismo
no país, o número de pessoas que realmente aprende a ler e escrever com
precisão é decepcionante. Segundo os recém-divulgados dados do 5º INAF (Índice
Nacional de Alfabetismo Funcional), um levantamento
sobre o alfabetismo de jovens de adultos no país
feito pelo Instituto Paulo Montenegro, 75% da população adulta têm noções de
leitura e escrita, mas não dominam plenamente estas habilidades. A definição
sobre o que é analfabetismo vem mudando ao longo das últimas décadas. Em 1958,
a UNESCO definia como alfabetizada uma pessoa capaz de ler e escrever um
enunciado simples, relacionado ao seu dia-a-dia. Vinte anos depois, a entidade
sugeriu a adoção dos conceitos de analfabetismo e alfabetismo
funcional.
É considerada alfabetizada funcional a pessoa
capaz de utilizar a leitura e escrita para fazer frente às demandas de seu
contexto social e usar essas habilidades para continuar aprendendo e se
desenvolvendo ao longo da vida. Na década de 90, o IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) passou a divulgar também índices de alfabetismo funcional, tomando como base não a
auto-avaliação dos respondentes, mas o número de séries escolares concluídas.
Pelo critério adotado, são alfabetizadas funcionais as pessoas com menos de
quatro anos de escolaridade. De acordo com a pesquisa, feita a cada dois anos,
só aproximadamente 26% da população brasileira entre 15 e 64 anos são
plenamente alfabetizados e 7% dos brasileiros são analfabetos. O INAF divide a
população em três níveis de alfabetização: Analfabetos: nesse patamar, a
maioria é do sexo masculino (64%), tem mais de 35 anos (77%) e pertence às
classes D e E (81%). Quase metade, 41%, não está
ocupada, 22% não chegou a completar nem um ano de escolaridade, mas 60%
completaram de um a três anos de estudo.
Nível 1 (rudimentar): nesse grupo, 39% têm entre
15 e 34 anos. Quase um terço pertence à classe C e 64% às classes D e E. A maior parte deles (49%) tem de 4 a 7 anos de estudo e
33% menos de três anos; 57% são negros.
Nível 2 (básico): estão concentrados nas classes
C (40%), D e E (45%) e 40% tem de 4 a 7 anos de
estudo. 23% usam computador.
Nível 3 (pleno): nesse grupo concentram-se mais
mulheres que homens (53% contra 47%). 70% têm até 34 anos, mais de um terço
pertence às classes A e B e 41% à classe C. A maioria tem o Ensino Médio
completo (60%).
Diante de tal situação, fica uma questão no ar.
Como as universidades, templos do conhecimento e produção científica, devem
proceder para ajudar a erradicar o analfabetismo no Brasil? Para a professora e
coordenadora do PAI (Programa de Alfabetização Inclusiva) da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo), Isilda Lozano Perez, a universidade tem uma
responsabilidade social e age sobre setores e questões que são importantes para
a sociedade. "Na verdade, a questão da alfabetização é de responsabilidade
social. É papel da universidade trabalhar com possibilidades que ajudem o
combate desse tipo de mal social. Isso faz parte deste contexto de
responsabilidade social da universidade", ressalta Isilda.
Para tentar resolver o problema do
analfabetismo, foi criada, em 1997, a ONG Alfasol
(Alfabetização Solidária) que é gerenciada por uma coordenação nacional,
responsável pela articulação de parcerias com diversos setores da sociedade:
empresas, instituições e organizações, Instituições de Ensino Superior (IES),
pessoas físicas, prefeituras e MEC (Ministério da Educação). Atualmente 219
instituições de ensino superior são parceiras da Alfasol.
Essas IES são responsáveis pelo desenvolvimento do projeto pedagógico e, entre
outras atividades, pelos cursos de aperfeiçoamento dos alfabetizadores.
Trata-se de um programa de alfabetização de jovens e adultos gerenciado por uma
organização não-governamental (ONG) sem fins lucrativos e de utilidade pública.
De 1997 a 2004, a Alfasol já atendeu 4,9 milhões de
jovens e adultos, em 2066 municípios e nos grandes centros de São Paulo, Rio de
Janeiro, Distrito Federal, Fortaleza, Goiânia, Belo Horizonte e São Luís. Só
este ano beneficiará mais 500 mil alunos.
"Nós queremos mostrar ao acadêmico que ele
é privilegiado por receber todas essas aulas, por estar dentro de um mundo de
conhecimento e por levar isso para aqueles que não tiveram condição nem de
receber a entrada no mundo das letras. Isto forma o verdadeiro cidadão e o
aluno caminha para ser esse cidadão que faz alguma coisa para a sociedade,
resgatando um indivíduo que, muitas vezes, não tem nem documento de
identidade", observa a coordenadora dos programas de Alfabetização da Unoesc (Universidade do Oeste de Santa Catarina), Marilena Detoni.