Portal Último Segundo, 09/10/2005

Unesco: mais de 770 milhões de adultos no mundo são analfabetos

 

"No mundo há 771 milhões de pessoas com mais de 15 anos que carecem de capacidades básicas de leitura, escrita e cálculo", destacou o relatório da Unesco. Setenta e cinco por cento destes analfabetos adultos vivem em doze países (Índia, China, Bangladesh, Paquistão, Nigéria, Etiópia, Indonésia, Egito, Brasil, Irã, Marrocos, República Democrática do Congo), segundo o estudo intitulado "A Alfabetização, um fator vital", que estabelece que "o analfabetismo anda junto, em grande medida, com a pobreza extrema". Embora o Brasil tenha sido apontado no grupo dos países com grande número de analfabetos, superior a 5 milhões de pessoas (junto com Afeganistão, Argélia, China, República Democrática do Congo, Indonésia, Iraque, Irã, México, Nigéria, Turquia e Tanzânia), o relatório destacou avanços no país no período de 1990 a 2000-2004. Em 1990, eram 17,33 milhões de brasileiros analfabetos (2% do total mundial), enquanto em 2000-2004, este número caiu para 14,87 milhões (1,9% do total mundial), representando uma queda no número de analfabetos de 2,466 milhões de pessoas.

 

A região com menor taxa de analfabetismo entre adultos é a Ásia Meridional e Ocidental (58,6%), seguida da África Subsaariana (59,7%) e dos Estados Árabes (62,7%), resumiu a Unesco. Sessenta e quatro por cento dos 771 milhões de analfabetos do mundo são mulheres, o que significa que não tem havido mudanças na paridade educacional nos últimos 15 anos. Este percentual "praticamente não mudou desde 1990", quando se situou em 63%, destacou o relatório, que estabelece que "o objetivo de obter a paridade entre os sexos em 2005 não foi alcançado em 94 dos 149 países sobre os quais se têm dados". A Unesco advertiu, ainda, que 100 milhões de crianças continuam sem concluir o ensino fundamental e que as meninas representam 55% deste número.

 

Advertindo que a exclusão dos jovens e adultos da alfabetização traz obstáculos para a redução da pobreza, a Unesco destacou que "embora o desafio esteja sobretudo nas regiões em desenvolvimento, um número significativo de jovens e adultos de países muito desenvolvidos possuem, ao mesmo tempo, competências muito limitadas". A entidade da ONU acusou os governantes de "descuidarem a alfabetização", deixando milhões de adultos à margem da sociedade e impedindo o cumprimento das metas fixadas no Fórum Mundial sobre a Educação, em 2000, em Dacar. "Ao deixar 771 milhões de cidadãos à margem da sociedade, as políticas nacionais e internacionais freiam a possibilidade" de se cumprir os seis objetivos estabelecidos em Dacar, entre eles a educação para todos e a redução da pobreza, destacou a organização.

 

Se as tendências atuais se mantiverem, em 2015 "apenas 86% dos adultos do mundo saberão ler e escrever, em comparação com os atuais 82%", destacou o estudo, que pede aos políticos para assumirem suas responsabilidades. "O desafio trazido pela alfabetização só poderá ser confrontado se os máximos dirigentes políticos se comprometerem a agir, adotando políticas de alfabetização explícitas", advertiu o documento. A Unesco concluiu que para alcançar as metas estabelecidas em Dacar, os países em desenvolvimento devem "acelerar suas ações", enquanto a ajuda internacional para a educação básica deve ser duplicada até que se atinjam níveis mais elevados que os prometidos pelos países do G-8 na cúpula de Gleneagles (Escócia), em julho passado.