Correio Braziliense, 12/03/2003 - Brasilia DF

Um triste retrato da escola

Estudo ‘‘Geografia da Educação Brasileira 2001’’ divulgado pelo MEC mostra que, de cada 100 crianças que entram no colégio, apenas 40 conseguem terminar o nível médio. No DF, a média de concluintes do antigo segundo grau é de 38%

Guaíra Flor da equipe do Correio

 

Matheus, Lucas, Joaberlan e Ana estão na 1º série do ensino fundamental. Têm entre 6 e 7 anos, moram na Estrutural e fazem parte de uma turma de 34 alunos do Centro de Ensino Fundamental 1, do Cruzeiro Velho. Da sala deles, nem todos estarão no álbum de formatura daqui a oito anos. No Brasil, de cada 100 alunos que ingressam no ensino fundamental, apenas 59 concluem a oitava série. Terminar o ensino médio é um feito de apenas 40% da população brasileira. Os dados fazem parte do estudo ‘‘Geografia da Educação Brasileira 2001’’, divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do Ministério da Educação.

 

A pesquisa reuniu dados inéditos e antigos da educação brasileira. A situação do Distrito Federal é, na maioria das vezes, bastante confortável. A capital do país é a unidade da federação que mais investe recursos, por aluno, em todos os níveis de educação. No entanto, tem índices de evasão escolar e de repetência maiores do que a média brasileira (leia matéria abaixo). O quadro pintado pelo Inep é desanimador. O estudante brasileiro demora cerca de 10,2 anos para terminar as oito séries do ensino fundamental. Culpa das altas taxas de repetência, que   giram em torno de 21,7% no país. ‘‘É isso o que acontece quando se prioriza a quantidade ao invés da qualidade’’, critica a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores de Educação (CNTE), Jussara Vieira. ‘‘Coloca-se toda criança na escola, mas só metade delas sai de lá com um diploma.’’

 

Apesar de a maioria dos alunos passarem pelo menos oito anos na escola, eles saem de lá apenas com a 6º série concluída. A taxa de evasão escolar gira em torno de 4,9%. Um número vergonhoso, segundo o novo presidente do Inep, Otaviano Helene. ‘‘Melhorar a escolaridade do brasileiro em anos e qualidade é um desafio de todos nós’’, afirma Helene. ‘‘O atraso do ensino brasileiro, em todos os níveis, é chocante. Os avanços obtidos nos últimos anos estão muito aquém do nosso potencial.’’

 

Helene afirma que o primeiro passo para resolver o problema é investir mais em educação. Os gastos brasileiros com todos os níveis de ensino são inferiores à média internacional. Para se ter idéia, os Estados Unidos investem R$ 4,7 mil por aluno, no ensino fundamental. A Argentina (mesmo com a crise) aplica cerca de R$ 1,1 mil por estudante, ao ano. Já o Brasil utiliza apenas R$ 668. Atualmente, o orçamento da Educação giram em torno de 5,7% do PIB. A CNTE e outras entidades de classe defendem a reserva de pelo menos 7% do PIB para o setor. Reivindicação que o PT prometeu atender, na época das eleições.

 

Além da falta de verbas, existem outras causas para os baixos níveis de escolaridade. Entre elas, a falta de qualidade das escolas e o baixo poder aquisitivo da população. ‘‘A verdade é que a escola pública não é inteiramente gratuita’’, explica o presidente do Inep. Segundo ele, manter o filho estudando induz a gastos com uniforme, material escolar, transporte e até mesmo alimentação. Isso pesa no orçamento das famílias carentes e as influencia a tirar os filhos da escola. ‘‘A bolsa-escola barateia esses custos, mas o valor pago atualmente não é suficiente para deter a evasão’’, completa Helene.

 

O presidente do Inep afirmou que o ministro da Educação, Cristovam Buarque, lançará, em breve, um pacote de medidas para combater problemas como os gastos induzidos da educação e os altos índices de repetência e evasão escolar. Ele disse, ainda, que Cristovam tem dito — em conversas informais — que pedirá ao presidente Lula uma fatia maior do orçamento para a Educação. Algo em torno de 7% e 10% do PIB.