Gazeta do Povo, 07/07/2004 - Curitiba PR

Supletivo tira alunos do ensino regular

Escolas estaduais de ensino médio começam a fechar turmas por falta de procura

Lívia Araújo

 

O governo do Paraná está tentando evitar uma fuga de alunos do ensino regular para o sistema de Educação de Jovens e Adultos (EJA), o antigo supletivo. A possibilidade de obter um diploma mais rápido está atraindo cada vez mais estudantes e já começa a causar efeito sobre as escolas de ensino médio. Há colégios estaduais fechando turmas por causa da redução de interessados em permanecer no ensino médio regular. A Secretaria de Educação não tem um relatório completo do número de turmas que estão sendo fechadas no estado. Mas em alguns lugares a migração para o supletivo já é visível. Só na Escola Estadual José Guimarães, na Vila Hauer, em Curitiba, três turmas de ensino médio serão suprimidas à tarde, e mais duas à noite. Na opinião da coordenadora do Departamento de Educação para Jovens e Adultos (DEJA), Maria Aparecida Zanetti, os alunos mais jovens procuram o supletivo para poder ingressar mais cedo no mercado de trabalho. O fato de a idade permitida para o ingresso no supletivo ser de apenas 14 anos, favorece a procura pelo curso. "Isso gerou um maior ingresso de adolescentes que não precisariam da EJA para concluir sua escolarização básica", afirma. Para reverter o problema, a secretaria diz que estimula os supletivos a darem preferência às matrículas feitas por maiores de 18 anos. Dados de abril de 2004, fornecidos pela Secretaria de Estado da Educação, indicam que atualmente há cerca de 212.000 alunos matriculados no EJA. O responsável pelo maior número de matrículas é no sistema dos CEEBJAs (Centros Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos), que é o do ensino semi-presencial. São 141 mil matriculados. Nesse sistema, o aluno deve cumprir 30%             do conteúdo do ensino regular assistindo às aulas nas próprias unidades. O restante é estudado a partir de apostilas e com as lições em casa.

 

A procura exagerada levou o CEEBJA Paulo Freire a suspender as matrículas. Atualmente, a unidade conta com cerca de 9.000 alunos matriculados. A diretora, Terezinha Rossi, acredita que a migração de alunos ocorre porque o método das escolas regulares está ultrapassado. "O regular tem de repensar sua prática." Segundo ela, alguns orientadores de escolas regulares telefonam ao centro pedindo que encaixem alunos que têm problemas de disciplina nas salas de aula. A coordenadora não incentiva a prática: "É errada a idéia de que o aluno indisciplinado deve ir para o EJA. Deve-se aprender a trabalhar com ele", aconselha Maria Aparecida