Correio da Paraíba, 16/04/2003 - João Pessoa PB

Sobre ensino

Editorial

 

Nas discussões sobre a educação brasileira, um dos temas sempre retomado por educadores, estudantes e suas famílias, é o relativo ao papel que nela cabe ao ensino médio. Trata-se de um problema intrincado cuja origem remonta, praticamente, à instituição entre nós desse nível de escolaridade. Desde então, tem ele mudado de nome - durante muito tempo chamou-se colegial; mudou para ensino médio; em seguida para 2º grau e, agora, retomou uma das denominações anteriores - sem aclarar suas funções.

 

Muito tem ajudado a manter aceso o debate a questão correlata do acesso ao ensino superior. A possibilidade de ingresso na universidade por meio de processo de seleção distinto do concurso vestibular           não teve o efeito desejado. A aplicação da nova sistemática tem se restringido, por enquanto, às instituições particulares e aos cursos em que as vagas oferecidas são em número mais elevado que o dos candidatos interessados em preenchê-las.

 

Bem-intencionada, a criação de cotas para estudantes da escola pública e afrobrasileiros vem pagando o preço da inovação e gerando mais calor do que luz.

 

Nada existe de errado em que a escola de nível médio contemple a preparação do estudante para o vestibular como uma de suas metas. O censurável é que faça de tal preparação seu fim exclusivo. Distorção gera distorção. Uma das mais preocupantes é a conversão do  ensino colegial privado numa rede repetidora de conteúdos e aplicadora de métodos definidos por um sistema externo. Isso gera uma "mcdonaldização" do ensino: em todas as franquias o sabor é invariável. Tem isso impedido que uma parcela considerável das escolas de ensino médio, exatamente as que recebem a clientela com melhores condições econômicas, sejam não apenas centros de ensino mas de reflexão sobre o trabalho que desenvolvem.

 

A intenção do ministro Cristovam Buarque, da Educação, anunciada na semana passada, de repensar os conteúdos exigidos no vestibular deve gerar, nas próximas semanas, mais debates - e, esperamos, também novas propostas sobre o ensino médio.