'Sinto-me
doída', diz ex-funcionária da Cesgranrio denunciada
no vazamento do Enem
08/03/2012
Professora
foi contratada pelo consórcio para coordenar aplicação de pré-teste em
Fortaleza
SÃO
PAULO - O procurador da República Oscar Costa Filho diz que itens do pré-teste
do Enem 2011 podem ter vazado em outras escolas de Fortaleza, além do Christus. Segundo ele, só na capital cearense, 30 colégios
foram locais de pré-teste e os coordenadores das unidades tiveram acesso aos
cadernos de questões. Nesta quinta-feira, o Ministério Público Federal ofereceu
denúncias contra cinco pessoas no caso do vazamento de perguntas do último exame.“Houve uma reunião no Colégio Santo Inácio, a convite
da Cesgranrio, para que os cadernos fossem entregues
aos coordenadores”, afirma o procurador. A responsável pela aplicação do pré-teste
em Fortaleza nega. A professora aposentada Evelina Seara, de 71 anos, acusada
de violação de sigilo funcional pelo MPF, diz que apenas entregou aos
coordenadores, nos dias seguintes à reunião no Santo Inácio, malotes lacrados
contendo os cadernos de itens. A investigação da Procuradoria revelou detalhes
do funcionamento do pré-teste que não foram
esclarecidos pelo Ministério da Educação à época do vazamento, revelado pelo
Estadão.edu em 26 de outubro. Não se sabia, por exemplo, que o pré-teste foi aplicado
em mais de um dia e em mais de um colégio da mesma cidade.
Além
de Evelina, o MPF denunciou à Justiça outras quatro pessoas: um professor e uma
funcionária do Christus, pela utilização e divulgação
indevida de material sigiloso, e duas servidoras do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), por
falsidade ideológica. Segundo Costa Filho, as servidoras do Inep
foram denunciadas por negar ao MPF e à Polícia Federal a possibilidade de se
obter todos os cadernos do pré-teste. O MEC informou hoje, por meio de nota,
que só iria se pronunciar “pelos canais jurídicos regulares”. Ainda no ano
passado, o Estadão.edu pediu à pasta a lista dos colégios que foram locais de
aplicação do pré-teste em 2010, mas não obteve retorno. Banco de questões - Segundo a denúncia do MPF, o vazamento ocorreu
porque o banco de questões do Enem é pequeno. “A divulgação pelo Inep/MEC de uma suposta composição de 6
mil itens não se sustenta à luz das investigações e das causas que
desencadearam o vazamento”, diz o texto. Para o procurador Oscar Costa Filho,
“se existissem 6 mil questões, a probabilidade de
repetir no Enem o que caiu no pré-teste seria mínima”. “O que aconteceu mostra
que o banco está esvaziado. E, se está esvaziado, não dá para fazer o Enem.” Alunos
do Christus receberam poucos dias antes do Enem 2011
um simulado com várias questões idênticas às que caíram no exame. O vazamento
veio à tona três dias depois das provas e resultou, após intensa guerra
judicial, no cancelamento de 14 testes para os estudantes do 3.º ano e do
cursinho do Christus. / COLABOROU CARMEN POMPEU, DE FORTALEZA
Carlos Lordelo e Cedê Silva, do Estadão.edu
O Estado de São Paulo - São Paulo SP