Rio Grande do
Sul vai mudar ensino médio
09/10/2011
A partir do ano que vem, escolas no Estado terão
menos tempo de aulas exclusivas de uma disciplina e mais para projetos
integrados
Cinthia Rodrigues, iG São Paulo A partir de 2012, os estudantes do 1º
ano do ensino médio na rede pública do Rio Grande do Sul deixarão de ter a
tradicional divisão das aulas em química, física, biologia, história, geografia,
sociologia, filosofia, língua, língua estrangeira, educação física e
matemática. No lugar entrarão projetos temáticos interdisciplinares que
contemplem as mesmas quatro áreas de conhecimento cobradas no Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem): linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da
natureza e as respectivas tecnologias. A proposta apresentada em setembro pela
Secretaria Estadual de Educação gaúcha ainda passa por debate com a rede
durante este mês, mas a mudança é certa. “Todas as 1.053 escolas vão mudar em
2012”, garante a assessora do ensino médio do Departamento Pedagógico, Vera
Maria Ferreira. Este ano, o Conselho Nacional de Educação (CNE) votou uma nova
diretriz para o ensino médio que segue linha similar, mas a proposta aguarda homologação
do ministro da Educação, Fernando Haddad. No Rio Grade do Sul, em vez das
disciplinas, as escolas escolherão os projetos a partir de 10 eixos. O
acompanhamento pedagógico, que deve permear todos os temas,
e meio ambiente, esporte e lazer, direitos humanos, cultura e artes, cultura
digital, prevenção e promoção da saúde, comunicação e uso de mídias,
investigação no campo das ciências da natureza; e educação econômica e áreas da
produção.
“Não é que vai deixar de existir uma matéria, mas ela vai ser dada em um
contexto”, afirma Vera. Segundo ela, algumas disciplinas continuarão tendo
tempos específicos para conteúdos que não estiverem relacionados a nenhum
projeto, mas algumas devem ter toda sua carga inserida em aulas
interdisciplinares como língua inglesa, portuguesa, matemática e sociologia.
“Acho muito difícil um tema destas áreas que não possa ser abordado com sucesso
dentro de situações problema.” De acordo com dados do último Censo Escolar, o
Rio Grande do Sul tinha 161 mil alunos matriculados no 1º ano do ensino médio.
O Estado enfrenta uma defasagem idade-série de 30% dos matriculados na etapa e
um índice de abandono de 13%, principalmente no 1º ano, e de 21,7% de
reprovação. “O novo modelo tem o desafio de manter o interesse destes jovens,
diminuir estas perdas e ainda atrair de volta cerca de 84
mil adolescentes que estão fora das escolas”, diz o secretário de Educação,
José Clóvis de Azevedo.
Tempo de aula e professores - A carga horária continuará sendo de 800 horas
mínimas por ano e 2.400 no total. Há a intenção de aumentar em 600 horas o
ensino médio todo, mas com atividades extra-classe e
estágios. “Queremos que os projetos sejam baseados em situações reais. Não
necessariamente vamos elaborá-los para que os alunos saibam lidar com as circunstâncias
da vida, pode ser até o contrário, usar a experiência nas áreas de produção
como ponto de partida para dialogar com o conhecimento”, diz Vera. Segundo ela,
o agrupamento de disciplinas não implica em mudanças para professores. Em
projetos interdisciplinares, todos os envolvidos dividirão o trabalho e haverá
um coordenador. “Em alguns momentos pode haver dois ou vários professores com
uma turma, mas eles não terão uma carga maior de trabalho”, afirma a responsável. O Estado promete abrir concurso para
contratação de 10 mil docentes no final deste ano, mas a preocupação principal
é com o aumento da carga horária fora da sala de aula, definida pelo Supremo
Tribunal Federal como um terço da total. Atualmente, os professores têm 20% do
horário remunerado para formação e preparo de aulas.
IG Educação