> Agência Estado, 22/02/2007 - São Paulo SP

Repetência recorde no ensino médio

Reprovação, de 3,6% em 1998, atingiu 17,8% em 2006

MARICI CAPITELLI 

 

Aos 17 anos, a estudante Renata Santos Emídio da Silva tomou uma atitude incomum em outubro do ano passado: apesar de freqüentar a escola e ter boas notas, decidiu que queria ser reprovada na 3ª série do colégio. Com isso, entrou para a estatística dos 262.960 alunos reprovados em 2006. Ao todo, 1,6 milhão de jovens cursam o ensino médio na rede estadual. O grande número de alunos reprovados tem assustado a Secretaria de Estado da Educação. E o pior é que o índice está crescendo. Em 1998, a taxa era de 3,6%. Agora está em 17,8%. Para reverter esse quadro, a secretaria está preparando mudanças na grade curricular para 2008. “Decidi que queria ser reprovada porque simplesmente não tinha aula. Os professores faltavam muito e , em outubro, percebi que não sabia nada de novo em relação ao ano anterior. Prefiro ter esperanças de que neste ano eu vá aprender”, justifica Renata, que mora e estuda no Jardim Lapena, bairro pobre da Zona Leste. A taxa de reprovação é alarmante, segundo a secretária estadual da Educação, Maria Lúcia Vasconcelos. Segundo ela, a reprovação é mais grave que o abandono - que vem caindo   -, já que 51% dos reprovados perderam o ano por faltas. Eles ultrapassaram as 50 faltas ao ano permitidas pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB). “Isso significa que esse aluno se motivou, inscreveu-se na escola, mas ela não conseguiu ser interessante para ele, não cumpriu o seu papel”, avaliou a secretária. O fenômeno da reprovação é maior entre os alunos do noturno, com 20,4% contra 15,3%. “A escola está muito distante da realidade dos alunos e em especial dos que estudam à noite e trabalham.” O cansaço dos estudantes, as aulas “maçantes”, como define a própria secretária, e os professores que faltam em excesso, são algumas das causas que contribuem para esse quadro negro que assola o ensino médio. “A falta de professores é um problema real . O Estatuto do Funcionalismo permite.” Ela conta que para ser punido é preciso que o professor falte 30 dias seguidos sem justificativa. Para a secretária, a grande maioria dos professores é comprometida com o que faz. “Só que os poucos que faltam muito provocam graves danos aos alunos”, diz Maria Lúcia. Para tentar resolver esses problemas, a   secretária está apostando na reestruturação dos cursos. Por enquanto, estão sendo feitos diagnósticos, mas as mudanças já devem começar no ano que vem. A principal mudança será o enfoque do ensino, que vai se voltar para o mundo do trabalho, embora não se trate de ensino profissionalizante. Maria Lúcia está batalhando para que os jovens tenham aulas de informática como disciplina regular. Outra ênfase será no aprendizado de línguas. “São qualidades que o mercado de trabalho já pressupõe que as pessoas tenham. Temos de oferecer isso.” Melhorar a capacidade de comunicação dos alunos também deve ser uma prioridade do ensino médio. As aulas de português não vão ficar limitadas ao estudo da ortografia, mas enfatizarão a capacidade de raciocínio. Algumas mudanças ainda dependem de aprovação do Conselho Estadual de Educação. NÚMEROS - 1,6 milhão são os alunos no Ensino Médio. 127 mil foram reprovados em 2006 na 1ª série do Ensino Médio. 81,4 mil foram retidos na 2ª série. 54,5 mil são os reprovados no último ano