Relatório
interno faz UFRJ questionar adesão total ao Enem
04/05/2012
A
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aderiu totalmente ao Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2011, mas um movimento de professores dentro
da instituição está trabalhando pelo retorno do vestibular da faculdade unido
ao exame do MEC. O debate voltou à cena graças ao relatório da Comissão de
Acompanhamento do Acesso aos Cursos de Graduação. Este texto dá munição aos
críticos que alegam que o exame do MEC não cumpre o objetivo de democratizar o
acesso ao ensino superior. De acordo com o estudo, mais de 80% dos estudantes
que entraram na UFRJ em 2011 aprovados pelo Enem vieram da rede particular de
ensino.
O
relatório foi feito com base no vestibular de 2010, quando a UFRJ ainda
dedicava apenas 60% de suas vagas para o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que selciona os candidatos
a partir da nota do Enem. Os outros 40% eram dedicados ao vestibular próprio da
Federal. O estudo cita, a título de exemplo, que sete candidatos aprovados
moravam no Complexo da Maré, mas que nenhum deles entrou pelo Enem/Sisu. Todos vieram pelo vestibular da UFRJ.
A
proposta da Comissão de Acompanhamento, a ser votada no Conselho Universitário
(Consuni) da UFRJ, é a volta do modelo de seleção
adotada no vestibular 2009, em que o Enem era usado
apenas como uma primeira fase eliminatória. A segunda fase era a prova
discursiva. Com isso, o Sisu seria descartado e a
própria instituição classificaria o candidato. Mas os profesores
da Comissão sabem que vai ser difícil aprovar a ideia, já que o próprio reitor
da UFRJ, Carlos Antonio Levi, defende a adesão total ao Enem. Ele quer,
inclusive, acabar com o Teste de Habilidade Específica (THE) para cursos como
desenho industrial e música.
- O Enem é a melhor
forma de seleção. Queremos viabilizar, se aprovado no Consuni, a extinção do
THE. Com isso, os cursos que exigem essa avaliação teriam suas vagas
disponibilizadas no Sisu. Estamos estudando essa
possibilidade - destaca o reitor.
O
professor Marcelo Paixão é membro do Consumi e da Comissão de Acompanhamento.
Para ele, o Sisu tira o sentido do próprio Enem.
- Sou cético quanto à
possibilidade de voltarmos ao sistema antigo, mas seria o ideal. O Sisu faz com que o Enem perca toda a proposta do governo de
universalizar o ensino. Com o sistema do MEC, um estudante do interior de
Pernambuco, por exemplo, não vai conseguir passar em um curso de grande procura
de uma universidade pública porque vai perder a vaga para um aluno de São
Paulo, que tem maior poder aquisitivo e, consequentemente, está melhor preparado.
Para
a especialista em educação e processo seletivo Ana Maria Ribeiro, o motivo pelo
qual a direção da UFRJ defende tanto o Enem/Sisu é o
fato de a adoção do sistema estar ligada diretamente à liberação dos recursos
do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni).
- A faculdade precisa
de recursos estudantis, por isso aceitou integralmente a proposta do MEC. Sem
esse recurso a faculdade não se mantém nem cresce -
conclui Ana Maria, que já foi professora da UFRJ. - O Sisu
é falho. Além disso funciona como uma loteria. O
estudante escolhe o curso não por vocação. Ele quer é entrar na universidade.
Esse estudante depois de um ano, no máximo, desiste porque vê que a carreira
escolhida não tem nada a ver com ele.
Rodrigo Gomes
O Globo - Rio de Janeiro, RS