Quase 30% dos
brasileiros com mais de 65 anos não sabem ler e escrever
17/11/2011
Paula Filizola Nascida e
criada em Remanso, interior da Bahia, Maria de Lourdes Vieira da Silva nunca
pisou em uma escola. E o seu maior sonho ainda é estudar. No Brasil, como a
baiana que completa 65 anos daqui a três meses, há quase 30% de pessoas com no
mínimo essa idade que são analfabetas, segundo o Censo 2010. Além da terceira
idade, cerca de 14,6 milhões de pessoas de 10 anos ou mais ainda não sabem ler
e escrever. Na última década, houve redução no analfabetismo em todas as faixas
etárias. Entre as unidades da Federação, a menor taxa foi a do Distrito Federal
(3,3%), enquanto Alagoas apresenta o maior percentual (22,5%). Na área rural,
porém, os números ainda são elevados (veja quadro). É nas regiões mais
afastadas que histórias como a de Maria de Lourdes se repetem. Ela cresceu sem
mãe. A caçula de três irmãos conta que o pai trabalhava para poder comprar
alimentos. Por isso, eles não podiam estudar. “Lá na roça, a única escola era
paga e bem longe de casa”, relata.
Mesmo morando há 13 anos em Brasília, a pensionista afirma que ainda encontra
dificuldades para estudar. Atualmente, Maria de Lourdes recupera-se de um
derrame, que a deixou com o lado esquerdo paralisado. Mais uma vez, ela adiou o
sonho de aprender a ler. Enquanto isso, depende da
família para realizar tarefas rotineiras, como ir ao banco e ao supermercado, e
usar um ônibus coletivo. Apesar do número alto de idosos
no Brasil que não sabem ler e escrever, o Plano Nacional de Educação (PNE),
projeto do Ministério da Educação para os próximos 10 anos, não contempla metas
específicas de alfabetização para esse público. O Conselho Nacional dos
Direitos do Idoso (CNDI) divulgou um manifesto criticando o projeto do MEC,
ainda em tramitação na Câmara dos Deputados. “No Brasil, não pensam no idoso
como cidadão pleno. A pessoa envelhece e perde o valor. Se não corrigirmos essa
questão, isso vai se perpetuar nas gerações futuras”, avalia
a presidente da entidade, Karla Cristina Giacomin.
Correio Braziliense - Brasília DF