Projeto
MOVA leva alfabetização aos jovens e adultos de todo Brasil
22/10/2011
Educadores integram o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos.
Projeto adota o método Paulo Freire de ensino.
O Brasil
tem mais de 14 milhões de analfabetos, quase 10% da população brasileira. O
MOVA, Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos, criado pelo educador
Paulo Freire, desenvolve um trabalho que ajuda a mudar essa realidade em todo o
país.
Há 20 anos nasceu em São Paulo o
Instituto Paulo Freire, que reuniu educadores e pensadores empenhados em levar
pelo Brasil a luta pela educação e pelo desenvolvimento humano. Um grupo
trabalha na pesquisa e na organização do acervo do instituto e do acervo
pessoal de Paulo Freire para deixar o conhecimento ao alcance do público e da
sociedade.
“A gente tem que trabalhar com 50
mil páginas de texto; 200 vídeos, que dão mais ou menos 300 horas de gravação;
200 cassetes; e três mil fotos”, diz Anderson Fernandes de Alencar, coordenador
do Projeto Paulo Freire Memória e Presença.
O educador Paulo Freire ganhou
notoriedade na década de 60, quando alfabetizou 30
cortadores de cana em apenas 45 dias, na cidade de Angicos, interior do Rio
Grande do Norte. O feito abriu caminhos para o reconhecimento de uma nova
maneira de ensinar a ler e a escrever.
“A educação de Paulo Freire é
pautada na leitura da realidade. Ele vai problematizando a palavra. Essa
palavra que vem nesse processo de alfabetização vem da realidade do educando.
Isso passa a ter mais sentido para o educando ficar em sala de aula”, explica
Francisca Rodrigues Pini, diretora pedagógica do
Instituto Paulo Freire.
"Eu sempre digo que nós
trouxemos pro mundo os filhos que puderam chegar porque houve outros que se
atrapalharam no caminho e nunca chegaram. Mas trouxemos cinco pro mundo, três
mulheres e dois homens, como resultado de lindos atos de amor. Nenhuma filha
minha, nenhum filho meu e de Elza veio ao mundo por acaso", diz Paulo
Freire em vídeo do acervo do educador.
“Ele tinha uma força interna
muito grande de realmente se indignar contra as injustiças que ele via
principalmente na sociedade brasileira”, diz Lutgardes
Costa Freire, filho de Paulo Freire.
“Eu sempre digo que Paulo Freire
deixou quase uma centena de obras, mas o que mais importa para nós é que ele
deixou como legado a crença de que é possível mudar o mundo”, avalia Moacir
Gadotti, diretor do Instituto Paulo Freire.
Em 1989 surgiu o MOVA, uma das
maiores experiências práticas inspiradas nas ideias freireanas. “A educação acontecia nos locais onde eles moravam.
Então, se utilizou de associações e espaços comunitários para que líderes
comunitários pudessem ser formados e efetivar essa alfabetização”, explica
Francisca.
Hoje, o Mova Brasil atua em dez
estados. Desde 2003, o projeto já alfabetizou 172 mil brasileiros. Neste ano,
serão formados 31 mil alunos em todo o país. O Nordeste serviu de berço para o
pensamento de Paulo Freire e uma das milhares de salas
de aula do movimento fica no município de Caucaia, na zona rural de Fortaleza,
no Ceará.
Na comunidade de Matões a própria
educadora construiu o espaço para dar aulas. “No início, nos três primeiros
meses, a gente funcionava em uma sala da minha mãe. A minha irmã me emprestou o
dinheiro, eu peguei o dinheiro que eu tinha, juntei e construí o espaço”, lembra
a monitora Kátia Rodrigues.
Na sala que construiu Kátia muda
e história da comunidade e da própria família. “Eu dou aula para a minha mãe,
meu irmão, minha avó, meu tio e para minha tia”, diz.
“O meu pai não aceitou que eu
estudasse. Quando eu queria estudar, ele dizia que para que filho de pobre
saber ler e que caneta de filho de pobre era o cabo de enxada. Era o que mais a
gente fazia, era trabalhar”, recorda Maria Gil dos Santos, avó de Kátia.
“O que eu mais aprendi eu posso
dizer com certeza é valorizar o ser humano. Paulo Freire dizia que ‘não há
saber menor ou saber maior, há saberes diferentes’. Às vezes porque você tem
uma faculdade ou um curso técnico ou o ensino médio e conhece uma pessoa que
não tem, você quer menosprezar essa pessoa. Mas todos eles
aqui, independente do nível que eles chegaram aqui, independente do nível que
eles estão, eles tem o valor, eles tem o saber”, diz Kátia.
Os alunos que à noite estão na
sala de aula, durante o dia são trabalhadores rurais de uma horta comunitária
ao redor da escola. Quanto maior o saber das palavras e dos números, maior o
domínio do próprio negócio. “A gente fica mais desenrolado e mais apto para
resolver as coisas”, diz o agricultor Francisco Duarte de Souza.
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