Polêmica na redação do Enem
01/10/2011

 

Professores e vestibulandos questionam a qualidade da correção dos textos, coordenada pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), da Universidade de Brasília (UnB) Professores e vestibulandos pernambucanos defendem que a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) não utilize a nota da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na composição da média final que definirá os aprovados no vestibular. Eles questionam a qualidade da correção dos textos, coordenada pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), da Universidade de Brasília (UnB), responsável, mais uma vez, pela aplicação do exame em parceria com a Fundação Cesgranrio. Docentes e estudantes pleiteiam que a Comissão do Vestibular (Covest) da UFPE volte a elaborar a prova de redação. O JC ouviu a opinião de quatro professoras de cursinhos pré-vestibulares do Recife que, juntas, têm mais de 3 mil alunos que farão o Enem e também o vestibular da UFPE. “Como avaliação, o Enem mede em que condições o estudante conclui o ensino médio. Os resultados deveriam contribuir para definição de políticas públicas e privadas. O corretor observa se o jovem tem conhecimento da língua portuguesa. Como vestibular, o Enem é um exame seletivo. O olhar do corretor é diferente. Ele vai buscar os erros do texto. As notas são arbitrárias”, observa a professora Flávia Suassuna. “A UFPE tem um dos melhores departamentos de letras e linguística do País e não pode desperdiçá-lo”, complementa.

“Ano passado tive alunos excelentes com notas medíocres no Enem. Também alunos medianos ou fracos com notas altas. No vestibular, a redação vale muito e qualquer ponto faz diferença para aprovação. As notas do Enem não foram coerentes. A UFPE deveria observar isso com mais atenção. A Covest tem um histórico irrepreensível de correção de redação”, destaca a professora Fernanda Bérgamo. “O que diz o edital do Enem não é seguido pelos corretores. A teoria é bem diferente da prática. Não há uniformidade. O Enem não está preparado ainda para ser um processo seletivo”, afirma outra docente de redação, Fernanda Pessoa. Betânia Ferreira também enfatiza a falta de uniformidade na correção da avaliação nacional. “São cinco milhões de redações para serem corrigidas por professores de diversas regiões, com realidades distintas. Cada um corrige separadamente. Na Covest, os professores estão juntos, se há dúvidas existe a troca de ideias, estabelece-se os mesmos  critérios de avaliação”, ressalta.

Candidata de engenharia, ano passado a estudante Camilla Carvalho Cunha, 18 anos, tomou um susto ao receber as notas do Enem. Havia tirado zero na redação, disciplina que ela sempre foi boa aluna. Tanto que no vestibular da Universidade de Pernambuco (UPE), Camilla obteve 9,5 na redação. “Tinha feito uma boa prova no Enem. Costumo copiar o rascunho exatamente igual na folha de resposta. Foi o que fiz. Depois levei o rascunho para um professor corrigir. Ele me deu nota 8,5”, conta Camilla. Ela e mais alguns estudantes moveram uma ação na Justiça solicitando o direito de ver a redação corrigida. Não conseguiram. “Por causa do zero fui eliminada no vestibular da UFPE e não pude concorrer na seleção do meio deste ano”, lamenta Camilla, que tentará ingressar na Federal novamente este ano. A pró-reitora acadêmica da UFPE, Ana Cabral, diz que para o vestibular deste ano não há nenhuma possibilidade de mudança. Está mantida a redação do Enem, conforme aprovou o Conselho Universitário. “O que podemos é, para o próximo ano, realizar uma discussão sobre o assunto.”

 

Jornal do Commercio