Pintou mudança
Programa
do MEC propõe alterações em currículo para tornar a escola mais atraente para
os jovens
28/02/2011
- São Paulo SP
Os dados chocam: metade dos jovens de 15 a 17 anos estão fora do ensino
médio. Parte desse contingente estuda, com atraso, no ensino fundamental. Mas
outra parte, a face mais preocupante dessa estatística, deixou os bancos
escolares para trás. "[Os alunos] encontram um ensino [médio] organizado
em torno de um número muito grande de disciplinas, sobrecarregadas de conteúdos
mais voltados para vestibulares, muitos deles sem significado para suas
vidas", diz Francisco Aparecido Cordão, presidente da Câmara de Educação
Básica do Conselho Nacional de Educação. O CNE discute atualmente uma
atualização das diretrizes curriculares do ensino médio. Um dos programas que
tem servido de base para a discussão é o Ensino Médio Inovador, criado e
financiado pelo Ministério da Educação e já implementado em 357 escolas do país
em 2010 -São Paulo não participa, mas estuda entrar. O
programa se baseia em quatro eixos: trabalho, ciência, tecnologia e cultura.
Cada escola cria seu plano de ação pedagógica, que pode eleger um desses eixos
como principal ou misturá-los, em atividades complementares, que podem
acontecer até fora da sala de aula.
Para isso, a carga horária passa
das 2.400 horas anuais obrigatórias para
3.000. Outros focos são leitura, artes e atividades em laboratórios, além da
dedicação integral dos professores. O governo do Rio já planeja estender o
modelo para mais escolas em 2013. Hoje, 16 participam. Antonio Paiva Neto,
subsecretário de Gestão da Rede e de Ensino, cita como exemplo uma escola que
integrou todos os conteúdos dados em aula ao mundo do trabalho. "O
programa acaba mexendo com a prática pedagógica do professor e o aluno começa a
questionar. Ele vê que é possível que aquela disciplina seja ministrada de uma outra forma", diz Letícia Ramos, coordenadora do
programa em Pernambuco.
PARTICULARES - Escolas privadas
usam o modelo para mexer nos currículos. É o caso do Magister
(zona sul de SP), que incluiu matérias como geografia literária -"que
permite um diálogo mais interessante entre a literatura e a geografia",
diz o coordenador pedagógico Marcelo Feitosa. Outra escola, o Bialik (zona oeste), decidiu virar o currículo de cabeça
para baixo em suas novas turmas de ensino médio -abertas
após o fim da fusão com o Renascença. Contratou 36 professores especialistas e
trocou, por exemplo, a tradicional física por matérias como "Das estrelas
ao átomo". "A gente vai bater muito forte na interdisciplinaridade,
fazendo monografias em que o aluno tem que abordar temas que misturam
várias disciplinas", diz Alexandre Ostrowiecki,
presidente da mantenedora do Bialik.
OUTRAS MUDANÇAS - Mudar a
formação dos docentes é, aliás, um dos principais pontos para melhorar o ensino
médio na visão de Gisele Andrade, presidente da Abaquar Consultores.
"Ninguém formou para a inter e a transdisciplinaridade."
Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, aponta o
problema da infraestrutura. "É preciso que a
escola não se pareça com um presídio." Segundo esses educadores, apesar de
ser positivo, o Ensino Médio Inovador não é visto como abrangente o suficiente
para mexer com as estruturas do ensino médio. "Ele pega poucas
escolas", diz Maria Helena Guimarães, coordenadora pedagógica da Parceiros da Educação. Ela aponta outro problema:
"Quem tem de assumir o ensino médio são os Estados". Maria Helena
conta que, no ano passado, um grupo de organizações não governamentais elaborou
um documento com propostas transformadoras. Entre elas, estão a redução de
matérias obrigatórias e o preenchimento de ao menos 40% do currículo com
disciplinas eletivas.
FABIANA
REWALD DE SÃO PAULO
Folha
de São Paulo