Pesquisa: formandos de escolas
técnicas não exercem função
Apenas 15% dos alunos que adquiriram formação técnica estão no mercado de trabalho na área em que são formados. O dado é do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), mas o governo estadual acredita que se reflita nos alunos egressos da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), da Secretaria de Ciência e Tecnologia. Para analisar se isso é verdade ou não, o secretário Alexandre Cardoso criou um grupo de trabalho, cujo resultado pode provocar mudanças no ensino técnico. "Hoje o aluno vai para uma escola técnica porque sabe que o ensino médio é de qualidade. Ele se forma, mas faz vestibular para outra área. Todo o dinheiro gasto pelo estado para formar técnicos é usado para os alunos entrarem na faculdade. Ou mudamos o conceito de escola técnica ou o estado vai ficar no prejuízo". O fato é que há carência de mão-de-obra técnica para trabalhar, por exemplo, em estaleiros, na área de petróleo e gás, no arco rodoviário.
"O desafio é mostrar a um jovem de 14, 15 anos as oportunidades de trabalho na área técnica" acrescenta a professora Márcia Farinazo, designada para o grupo de trabalho. "E isso só é feito com orientação pedagógica. É injusto cobrar de um adolescente uma definição profissional. Muitos não têm consciência do que buscam." Uma opção já levantada pelo grupo de trabalho é cobrar a definição da especialização do aluno apenas a partir do segundo ano. As aulas do primeiro seriam como as do ensino médio tradicional. "A escola tem de dar a oportunidade de o jovem conhecer as diferentes áreas, para que possa se decidir" complementa Márcia. Além desses problemas, o ensino técnico encontra uma barreira no preconceito da sociedade, destaca o ex-presidente da Faetec Cláudio Mendonça.
"O ensino superior dá uma melhor perspectiva de remuneração. No entanto, na prática, a área técnica oferece mais chances de inserção no mercado de trabalho. Hoje o vestibular não é mais um desafio, é uma aspiração natural". Mendonça relembra que, em 1993, Darcy Ribeiro já lhe apontava que o ensino técnico consumia os recursos do estado sem retorno. "O estado deveria investir na concomitância externa, em que o aluno faz o ensino médio regular e, fora da escola, procura uma especialização. Para isso há uma tendência de pessoas interessadas." JB Online