Folha de
São Paulo, 28/08/2006 - São Paulo SP
Segundo especialistas, prova, considerada fácil,
optou por questões específicas e deu ênfase à interpretação de textos.
Professores elogiaram tema da redação, "o poder de transformação da
leitura", e apontaram imprecisões em pergunta de geografia
Da
Reportagem Local
A prova do Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio), feita ontem por 3,731 milhões de estudantes em todo
o país, foi, segundo professores de cursinho, uma espécie de teste
pré-vestibular. A avaliação optou por questões específicas em vez das
interdisciplinares e deu ênfase à interpretação de textos. A redação abordou o
"poder de transformação da leitura", tema que agradou aos
professores. "É um tipo de prova com cobrança mais próxima de vestibular,
com as questões divididas, como as oito primeiras de português", afirmou a
professora Célia Passoni, coordenadora de português
do Etapa.
O coordenador do Sistema Anglo de Ensino,
Nicolau Marmo, tem opinião semelhante. "A prova
teve características diferentes daquelas dos anos anteriores. Os alunos
esperavam questões interdisciplinares, mas a maioria não foi assim",
afirmou. "Dividiram a prova pelas matérias." Segundo ele, história e
biologia foram as únicas disciplinas que exigiam conhecimento específico
prévio. "Nos outros anos, as informações para a resposta estavam na
própria questão", disse. Para o professor Francisco Achcar,
coordenador de português do Objetivo, a prova exigiu poucos conhecimentos dos
alunos -bastava uma compreensão de texto razoável. "A prova não passava de
conhecimentos básicos e interpretação de textos", afirmou ele, que viu
exagero nas questões de geografia (foram 22) em comparação, por exemplo, às de
língua portuguesa (7).
Não houve erros graves na prova, apenas
imprecisões, dizem os professores. Em uma questão de geografia, sobre mudanças
nas fronteiras de países da Europa Oriental no final do século 20, duas
respostas podem ser corretas, segundo o Anglo, mas o Inep
considerou apenas uma. Para o professor Edilson Adão,
do cursinho da Poli, houve erro.
A resposta correta no gabarito oficial atribuía
o fenômeno ao avanço do capitalismo e da ideologia neoliberal. Adão diz que
alternativa mais fiel, porém, era a que associava as divisões nas fronteiras a
"lutas de antigas e tradicionais comunidades nacionais e religiosas
oprimidas por Estados criados antes da 2ª Guerra Mundial". O tema da
redação foi classificado como "excelente" pelo coordenador de
português do Objetivo. "O tema tem a ver com a leitura, que é justamente a
habilidade central da prova." Para Achcar, usar
a leitura como tema da redação é mais apropriado que recorrer a um tema
contemporâneo. "O estudo é a capacidade de transformar, e parte disso é
leitura." A estudante Adriana Vital, 19, achou a redação, a exemplo de
toda a prova, fácil, mas esperava um tema mais atual. "Como faço cursinho,
eu estava por dentro [dos assuntos abordados]", disse ela, que pretende
cursar farmácia na Unesp. O Enem é obrigatório para
quem quer participar do Prouni (Programa Universidade
para Todos), que concede bolsas em universidades a alunos carentes. O número de
alunos ausentes será divulgado amanhã.