Estado de Minas, 23/06/2003 - Belo
Horizonte MG
O ensino médio
Não são raros os casos de adolescentes formados com excelente
desempenho no ensino fundamental
Padre Geraldo Magela Teixeira - Reitor da PUC
Minas
Eles estão aprendendo lições na escola, que não integram os currículos e que, como educadores, não temos orgulho de ensinar. Como integrante do Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais, chegam-me, rotineiramente, relatos de professores, pais e alunos, que buscam algum tipo de conselho, ajuda, e mesmo um espaço para desabafar os sentimentos de angústia e desespero de quem trabalha ou freqüenta as escolas de ensino médio brasileiro.
Não sem motivos. Salas de aula com mais de 50 alunos, quando o máximo deveria ser de 35 estudantes. Quanto às lições, os jovens começam a entender que, para acompanhar o conteúdo que o professor expõe, só mesmo pedindo o livro emprestado com quem conseguiu comprar no sebo ou tirando xerox. Em qualquer profissão, especialmente a de educador, sabemos que recursos são fundamentais para o pleno exercício do trabalho.
Se no quesito recursos, os livros estão em desvantagem, outro ator essencial na educação brasileira parece entrar em rota de extinção. No Brasil, faltam 200 mil professores para as disciplinas de física, química, biologia e matemática. Os fatores são óbvios. Os baixos salários pagos no ensino público brasileiro e as poucas possibilidades de ascensão profissional colocam as licenciaturas em últimos lugares no ranking de cursos universitários. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, vigente desde 1996, integrou o ensino médio à educação básica, sem no entanto tornar obrigatória a sua oferta. O governo federal abriu o debate nacional sobre o ensino médio, com propostas de torná-lo obrigatório e com o prolongamento do ciclo dos atuais três anos para quatro. E mais, nos planos do Ministério da Educação estão a extensão dos programas do livro didático, a merenda escolar e a Bolsa-Escola para os anos finais da educação básica.
Para enfrentar este desafio, com a falta de escolas e de professores capacitados em número suficiente para atender à demanda, é mesmo urgente o debate nacional. Com a universalização do ensino fundamental, a massa de adolescentes em busca de formação média cresce ininterruptamente. De 1996 para 2002, mais de 3 milhões de alunos entraram no sistema, um crescimento de 53%. Com isso, tornou-se rotineira a queixa de pais e professores sobre o destino dos jovens estudantes. Não são raros os casos de adolescentes formados, com excelente desempenho no ensino fundamental, que interrompem um ritmo de estudos, que deveria ser natural, pelo fato de que escolas que oferecem o ensino médio estarem situadas distante de seus bairros e suas famílias não têm como pagar a passagem diariamente. Na rede privada, o caráter de terminalidade do ensino médio pode ser descrito com o entendimento quase geral no País de que os três últimos anos do ensino básico são uma etapa preparatória para o vestibular. Sem a triste vivência estudantil da falta de livros, de merenda, de professores e de escolas, os jovens das classes média e alta preenchem o seu tempo de adolescência com conteúdos disciplinares que, salvo raríssimas exceções, não discutem valores, direitos humanos, pela ausência de projetos pedagógicos instrumentalizados para atuar na formação do jovem como cidadão e como profissional, para que ele venha a atuar com sucesso na vida e no trabalho.
Afinal, esta formação já está descrita na própria LDB, que profere um currículo nacional estruturado em competências básicas distribuídas em três áreas: linguagens, códigos, matemática e ciências humanas e suas tecnologias e ciências da natureza. Qualidade de ensino se experimenta também em atividades em grupo, no estímulo à participação responsável e no exercício da criatividade. A educação brasileira está na agenda do governo Lula e tem atraído os holofotes da mídia. Mas é preciso enfrentar o gigantesco anseio da sociedade de torná-la um referencial de qualidade e livre acesso a todos os cidadãos deste País.