O Enem e suas
histórias
23/10/2011
Candidatos perdem prova por causa de ônibus, namoram
às vésperas e até amamentam durante o exame
Estadão.edu Se cada um faz sua história, o Enem deste ano renderia 5,3 milhões
de pequenos contos. São casos de estudantes inscritos para fazer as provas e
que chegam atrasados. Alunos que aproveitam os últimos minutos antes do exame
para namorar. E até o da mãe que deixou de responder a 5
questões para amamentar a filha recém-nascida. Em São Paulo, cerca de 20
pessoas não conseguiram chegar a tempo da prova ao câmpus
da Unisa em Santo Amaro, zona sul. Todas reclamaram
da mesma linha de ônibus, a 675X-10, que liga o terminal do Grajaú, zona sul,
ao Metrô Vila Mariana. Segundo elas, os carros da linha estavam demorando muito
para sair do ponto inicial. A candidata Fabiana Santos, de 21 anos, enfrentou a
situação. “Cheguei por volta das 11h20 e fiquei 40 minutos esperando pelo
ônibus. Quando ele chegou, tivemos que esperar mais 30 minutos para finalmente
sair dali.”
No câmpus da Unip no
Paraíso, também na zona sul, um senhor de bengala foi o último candidato a
entrar no local de prova. Ele caminhava com dificuldade e entrou no último
minuto. Já o primeiro a ficar de fora foi Ítalo de Sousa, de 17 anos. Ele veio
correndo pela Rua Vergueiro, mas encontrou o portão fechado. “O celular não me
despertou”, disse Ítalo, ofegante. "E meus parentes tinham saído de casa.
Agora, é comprar um despertador melhor." Já o casal de namorados Gustavo
Willian e Giulia Grecco chegaram antes das 11h30 à Unip. A sintonia era tão grande que os dois traçaram a
mesma estratégia para a prova de hoje: fazer a redação antes das 90 questões
objetivas de matemática e de Linguagens e Códigos. “Tem que se prevenir, não
é?”, disse Giulia, sobre chegar com 1 hora e 30 minutos de antecedência.
Tempo extra - Em Salvador, os candidatos que fizeram a prova de hoje no Centro
Universitário Estácio da Bahia (Estácio-FIB), no Stiep, ganharam da coordenação do
Enem no local tolerância de 4 minutos após as 13h, horário do fechamento dos
portões. O tempo extra “salvou” sete candidatos de perder a prova – o último,
vendo o portão fechando, largou sua moto no meio da rua e correu, com capacete,
para dentro da faculdade. A moto foi retirada da via por uma policial militar, ajudada
por vendedores ambulantes que estavam nas redondezas.
Em Recife, o Benoit Mota de Almeida, de 17, até chegou cedo, mas foi barrado ao
tentar usar carteira de estudante como documento de identidade pela 2.ª vez,
neste domingo. Ele chegou ao local por volta das 11h30, mas só percebeu o
problema às 12h30. Não teve mais tempo para encontrar uma saída desesperada:
fazer um boletim de ocorrência, dizendo que havia perdido o documento. E nem de
esperar os pais virem de Olinda, onde mora e onde esqueceu a identidade,
distante cerca de 40 minutos de carro. “Perdi um ano por falta de atenção”,
afirmou, à espera de uma “tremenda bronca” da família. Também na capital
pernambucana, a filha recém-nascida não impediu que Adriana Albuquerque de
Almeida, de 21 anos, fizesse o Enem. Nesses dois dias de prova, ela contou com
a ajuda da irmã e da organização do exame para cuidar do bebê enquanto responde
às questões numa sala ao lado, na Universidade Católica de Pernambuco. Ontem
ela teve de sair duas vezes da sala para amamentar Ana Beatriz, de apenas 22
dias. Somadas, as sessões duraram 50 minutos, o que fez Adriana deixar de fazer
5 das 90 questões da prova de Ciências Humanas e
Ciências da Natureza. "Com minha filha aqui, fico mais tranquila",
disse. Coisas de mãe. / COM ÂNGELA LACERDA, CEDÊ SILVA, MARIANA MANDELLI E
TIAGO DÉCIMO
O Estado de São Paulo - São Paulo SP