Número
de redações inválidas no Enem sobe 168% entre 2009 e 2011
Mudanças
nas regras da redação e variação no perfil de candidatos são responsáveis pelas
anulações dos textos
23/10/2012
Desde
2009, quando o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ganhou status de
vestibular, o número de redações anuladas vem crescendo a cada ano. A
quantidade de textos invalidados aumentou 168% entre 2009 e 2011, contra um
crescimento de 59% no número de redações corrigidas. Os dados mantêm relação
com mudanças nas regras de correção, com as diferentes propostas de redação a
cada edição do exame e também com o perfil dos inscritos, segundo
especialistas.
Teste: Quanto vale sua
redação do Enem
No
último Enem, o de 2011, foram anuladas 137.161 redações – o que representa 2,5%
do total de pessoas que fizeram a prova, contando quem a entregou em branco. O
Estado obteve os dados das últimas cinco edições do Enem por meio da Lei de
Acesso à Informação. Os números foram enviados pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do
Ministério da Educação (MEC) responsável pelo Enem.
Na
comparação entre 2007 e 2011, a alteração nesse panorama é ainda maior.
Enquanto a variação de textos corrigidos foi de 50%, o aumento de textos
anulados ficou em 661%. Em 2007, apenas 18.030 textos foram anulados. Já o
número de redações entregues em branco - que inclui os faltosos - cresceu 71,5%
entre 2007 e 2011.
Correção: Entenda as
mudanças na avaliação da redação em 2012
Para
o Inep, "a quantidade de redações identificadas
como "anuladas/fuga ao tema" apresenta uma relação direta com o tema
da redação proposto para cada edição do Enem". Mas isso não explica tudo.
Segundo o professor Maurício Kleinke, coordenador do
vestibular da Universidade de Campinas (Unicamp), era de se esperar que a
partir de 2009 houvesse cada vez mais redações anuladas. O motivo é o uso
variado do exame.
Além
de vestibular, o Enem passou a ser usado após 2009 como certificação do ensino
médio e de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além de critério para bolsas no
Programa Universidade Para Todos (ProUni) e
financiamento estudantil.
"O
Enem começou a ser mais procurado por pessoas que estão afastadas do sistema
educacional", diz Kleinke. No último Enem, 46%
dos inscritos tinham mais de 21 anos. O professor lembra que a realidade
socioeconômica é preponderante para o desempenho na redação. "O Enem
atende um público muito variado."
Essa
abrangência de usos é espelhada nas regras para correção da prova,
principalmente no tamanho do texto. O candidato que escrever oito linhas já
garante o direito de ter nota – caso não desrespeite outros critérios. Além de
não seguir o tamanho mínimo, um candidato terá zero se fugir ao tema proposto,
escrever impropérios, desenhos ou outras formas propositais de anulação ou não
obedecer à estrutura de texto dissertativo argumentativa.
Correção
Professor
aposentado de Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp),
Rogério Chociay defende que o Enem tenha critérios de
correção variados para cada perfil de candidato. "Não afasto o despreparo
dos corretores, mas a falta de qualidade dos textos é a maior responsável pelas
anulações. Os concluintes têm desempenho diferente de quem saiu do EJA",
diz.
Chociay
faz uma ressalva: o porcentual de anulações, apesar de ter crescido, é baixo. Kleinke, da Unicamp, concorda. O ex-presidente do Inep João Batista Gomes Neto vai mais longe e diz que os
números expõem as falhas do ensino médio. "O problema da educação no
Brasil é gravíssimo. E, dentro desse problema, o da redação é o mais grave,
pois as pessoas não sabem escrever."
Rigor
Na
última edição do Enem, o MEC já havia promovido alteração nos critérios da
redação, com a diminuição da discrepância de notas entre os dois primeiros
corretores para que o texto tivesse nova correção. Para a próxima edição, nova
mudança: diminuiu ainda mais a discrepância, agora para 200 pontos. Também há
limite de diferença em cada uma das cinco competências avaliadas.
As informações são do
jornal O Estado de S.Paulo.
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