Novo ensino médio visa ao mercado de trabalho

05/05/2011 - São Paulo SP, O Estado de São Paulo

 

Intenção do Conselho Nacional de Educação é priorizar temas mais ''úteis''

 

Uma escola mais integrada com as demandas do mercado de trabalho, que atenda às reivindicações da sociedade, torne-se mais atraente aos estudantes e seja livre de comodismos. Esse é o cenário desenhado pelas novas diretrizes do ensino médio, aprovadas ontem pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). O objetivo é aproximar a escola da experiência pessoal do aluno, garantindo-lhe uma formação mais abrangente. "É preciso que o jovem identifique os assuntos tratados com o seu projeto de vida", diz o conselheiro José Fernandes de Lima, relator das diretrizes, que espera a homologação das normas pelo ministro Fernando Haddad até junho. Segundo as novas diretrizes, o ensino médio deve ser estruturado a partir de quatro áreas de atuação - ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Em termos práticos, uma escola de uma região turística poderia escolher a área de cultura como eixo de atuação, dando mais espaço na grade às disciplinas de história e geografia, por exemplo. As demais disciplinas também poderiam ser ministradas seguindo esse viés.

Vocação. O conselheiro, no entanto, admite que a escolha de uma "vocação" pode adquirir contornos problemáticos - como conciliar, por exemplo, os interesses de pessoas com diferentes projetos de vida? E no caso de municípios com uma rede mínima, como garantir que cada aluno seja contemplado pela "área de atuação" de seu interesse? "Se num único lugar só há uma escola, não se pode afunilar demais."

As novas diretrizes também permitem que os alunos do ensino médio noturno tenham mais tempo para concluir os estudos. Hoje, a duração é de três anos. O texto não estabelece um teto, mas a medida visa a diluir o mínimo de 2,4 mil horas do total de curso em um intervalo de tempo maior. Como muitos estudantes dos cursos noturnos conciliam a rotina de trabalho com o período de aula, chegam atrasados e cansados às salas. A saída, nesses casos, seria ter menos aulas por dia e concluir o ensino médio em um prazo maior. Outra possibilidade garantida pelas diretrizes é a realização de aulas não presenciais para o ensino médio noturno. As classes a distância teriam um limite: não poderiam representar mais que 20% do total de aulas.            Dados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), de 2009, mostram que os alunos do ensino médio estão estagnados no desconhecimento, sem conseguir, por exemplo, identificar a ideia principal de um texto ou associar que metade é 50%. Eles receberam nota 3,6, numa escala de 0 a 10 - apenas 0,1 superior à obtida em 2007. Problemas - Um estudo realizado em 2009 revelou que 10,9% dos jovens entre 15 e 17 anos deixam de estudar por falta de acesso e 21,7% o fazem por motivos diversos, entre os quais a gravidez precoce.

MUDANÇAS: Flexibilidade no currículo - Cada escola vai poder optar entre manter a grade curricular tradicional e a montagem do projeto político-pedagógico a partir de quatro áreas de atuação - ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Cursos noturnos - A ideia é que as escolas com cursos noturnos tenham uma parte de sua carga horária de forma não presencial, com aulas e atividades à distância. O conselho também aprovou a possibilidade de o aluno concluir o ensino médio um período maior do que três anos, prazo máximo definido atualmente.

 

Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA