Novo
currículo do ensino médio poderá ser inspirado no Enem
17/08/2012
Após
a divulgação dos resultados insuficientes das escolas de ensino médio na última
edição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb),
o Ministério da Educação (MEC) planeja uma modernização do currículo, propondo
a integração das diversas disciplinas em grandes áreas. A inspiração deverá vir
do próprio Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que organiza as matrizes
curriculares em quatro grandes grupos: linguagens, matemática, ciências humanas
e da natureza. Essa é a divisão que segue a prova, diferentemente do modelo
tradicional por disciplinas como química, português, matemática e biologia.
O
debate não é novo: no ano passado, o Conselho Nacional de Educação (CNE)
aprovou as novas diretrizes curriculares do ensino médio que propõem uma flexibilização do formato atual. O diagnóstico é que o
currículo do ensino médio é muito inchado – em média são 13 disciplinas – o
que, na avaliação do secretário de Educação Básica do MEC, César Callegari, prejudica a aprendizagem. “O Enem é uma
referência importante, mas não é o currículo, ele avalia o currículo. Mas ele
traz novidades que têm sido bem assimiladas pelas escolas”, diz o secretário.
De
acordo com Callegari, a ideia é propor uma
complementação às diretrizes aprovadas pelo CNE, organizando as diferentes disciplinas
em grandes áreas. “O que tem que ficar claro é que não estamos propondo a
eliminação de disciplinas, mas a integração articulada dos componentes
curriculares do ensino médio nas quatro áreas do conhecimento em vez do
fracionamento que ocorre hoje”, explica.
Na
próxima semana, o ministro Aloizio Mercadante se reúne com os secretários de
Educação com o objetivo de discutir os caminhos para articular a mudança. Uma
providência já foi tomada para induzir essa modernização dos currículos.
Segundo Callegari, a próxima compra de livros
didáticos para o ensino médio dará prioridade a obras que estejam organizadas
nesse formato. O edital já está sendo preparado. O MEC tem um programa que
distribui os livros para todas as escolas e a próxima remessa será para o ano
letivo de 2015 – as obras são renovadas a cada três anos.
Para
o secretário de Educação do Espírito Santo, Klinger
Barbosa Alves, uma das explicações para os maus resultados da etapa em
diferentes indicadores, além do Ideb, está na própria
estrutura organizacional do ensino médio que se baseia na preparação para o
vestibular e tem pouca atratividade para o projeto de vida do adolescente.
“A
visão de que o ensino médio serve para formar pessoas para ingressar na
universidade não se aplica à realidade de muitos. Os jovens têm necessidades
econômicas e sociais diferentes. Existe uma pressão para que parte dos jovens
ingresse no mercado de trabalho e aí o curso superior entra como uma segunda
possibilidade” explica Alves, que é vice-presidente do Conselho Nacional dos
Secretários de Educação (Consed).
O
secretário do Espírito Santo, um dos estados em que a nota do Ideb caiu de 2009 para 2011, defende um modelo de ensino
médio que dialogue com as diferentes necessidades dos estudantes e inclua
também a preparação para o mundo do trabalho, já que para muitos o ingresso na
universidade pode não estar na lista de prioridades.
Para
que a escola possa abranger essa formação diversificada - que inclua a
aprendizagem dos componentes curriculares, a articulação com o mundo do
trabalho e a formação cidadã –, Callegari defende que
é indispensável a ampliação do número de horas que o estudante
permanece na escola, caminhando para o modelo de tempo integral.
“Temos
consciência de que os conteúdos e as habilidades que os estudantes precisam
desenvolver não cabem mais em um formato estreito de três ou quatro horas de
aula por dia. É assim [com ensino em tempo integral] que os países com um bom
nível de qualidade do ensino fazem”, diz.
Amanda Cieglinski - Agência Brasil - Brasília, DF