O Estado de São Paulo, 21/11/2003 - São Paulo SP

Nota média no Enem sobe de 34 para 49,5

Pela primeira vez desde massificação do exame, maioria teve resultado entre regular e bom

LÍGIA FORMENTI

 

BRASÍLIA – Os resultados da sexta edição do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), divulgados ontem pelo Ministério da Educação, mostram um desempenho regular da maioria dos estudantes brasileiros. A nota média alcançada na prova objetiva foi 49,55 e na redação, 55,36, numa escala de zero a 100.Noanopassado, o desempenho médio foi de, respectivamente, 34,13 e 54,31. Essa foi a primeira vez desde que o exame passou atermaisde1milhãodeparticipantes, em 2001, que a maioria dos estudantes alcançou a classificação entre regular e bom. Em edições anteriores, os resultados mais freqüentes ficavam no patamar insuficiente a regular. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as notas gerais do Enem não podem ser comparadas ano a ano, já seu objetivo é o de apenas avaliar o indivíduo. "De qualquer forma, é um progresso. Em relação ao máximo que era pedido, a nota aumentou", diz a educadora Guiomar Namode Mello. Para o educador da Universidade de São Paulo (USP), Nélio Bizzo, a nota aumentou provavelmente porque as questões este ano foram mais fáceis. Talvez por isso, pela primeira vez dois estudantes tiveram nota máxima nas duas provas, de redação e objetiva. A análise dos dados revela um grande abismo entre os alunos. O grupo de estudantes da rede particular com renda familiar mensal de até 1 salário mínimo, por exemplo, alcançou a média de 48,11. Já os que têm renda familiar superior a 50 salários mínimos ficaram com 70,59. "Só o acesso à escola não é suficiente para diminuir a desigualdade", diz o presidente do Inep, Luiz Araújo. Por outro lado, o Enem mostra que alunos de escola particular têm sempre desempenho superior ao dos matriculados na rede pública, mesmo quando seu perfil é semelhante. Brancos na escola pública, por exemplo, têm nota média de 47,10. Na particular, o número sobe para 65,78. "O ensino médio público é um órfão no Brasil", diz Bizzo. Diferentemente do ensino fundamental, o médio até agora não recebe dinheiro do Fundef nem livros didáticos. A participação no Enem não é obrigatória. Mas a edição deste ano registrou a maior participação dos estudantes desde a criação do exame em 1998: 1.322.644 inscritos. Araújo calcula que quase70%desses estudantes tenham se inscrito porque algumas instituições do ensino superior levam em consideração a classificação do Enem durante o processo seletivo. O presidente do Inep disse que, apesar do recorde de participação, o Enem deverá ser totalmente reformulado. Entre as propostas estudadas está a fusão como Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb). "Ele não resolve o problema da desigualdade (no acesso à universidade) nem é um indicador da qualidade", afirmou Araújo. (Colaborou Renata Cafardo)