Mercado
de trabalho: há vagas, mas faltam profissionais - Por quê?
12/10/2014
No início de 2014 a Organização Internacional do
Trabalho (OIT) anunciou a alta do desemprego entre os jovens em todo o mundo.
No Brasil, o índice representa 13,7% da população entre 15 e 24 anos, mais que
o dobro da taxa de desemprego total do país. Ao mesmo tempo, setores como o
comércio, a prestação de serviços e a indústria têm sido impactados pela falta
de profissionais para preencher milhares de vagas que, muitas vezes, exigem
apenas qualificações básicas. Essa equação não fecha: sobram vagas e sobram
pessoas. O que falta então?
Apesar de sermos atualmente a 7ª maior economia do
mundo, temos índices educacionais preocupantes, ficando próximo às últimas
colocações nos rankings de leitura, matemática e ciências do Programa
Internacional de Avaliação de Alunos (PISA). Segundo o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, dedicamos em média 7,2 anos para a escola, e o
Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) mostrou que
temos apenas 26% da população plenamente alfabetizada. A comparação entre os
dados econômicos e os educacionais nos dá o caminho: o País avança rapidamente,
porém o investimento nas pessoas é menor, lento e gradual.
Muito se fala que a raiz do problema encontra-se na
falta de qualificação profissional. No entanto, o contato com o setor de
serviços e comércio que mantenho devido aos cursos profissionalizantes que
gerencio na ONG Ação Comunitária, me mostra que esse fator não é sempre um
empecilho: diversos restaurantes e lojas aceitam profissionais inexperientes e
propõem-se a treiná-los. Mesmo assim estes estabelecimentos têm dificuldades
para preencher vagas ou manter funcionários.
O crescimento cada vez maior de cursos de
capacitação, oferecidos tanto pelo Setor Público quanto pelo Terceiro Setor,
mostra que existem possibilidades de formação para esses jovens. O Governo
Federal criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), o setor privado conta com o Sistema S e muitas
ONGs atuam com a formação profissionalizante. Sabemos que os cursos
preparatórios não solucionam o problema da falta de educação básica, que apenas
eles não são o suficiente para a construção de uma carreira e que é necessário
que o aluno continue se aperfeiçoando para crescer profissionalmente. Mas é
inegável que eles são um diferencial na busca por emprego quando se está
começando, e mesmo assim as taxas de evasão em alguns cursos passam de 50%, segundo
o Ministério da Educação.
Isso nos leva a crer que a dificuldade de se
preencher vagas de trabalho ocorre na verdade por uma confluência de fatores. O
primeiro que destaco diz respeito à perspectiva do jovem na atualidade. Hoje no
Brasil, 1 a cada 5 jovens não estuda ou trabalha,
sendo que a maior parte deste grupo é composto por mães novas e de baixa renda,
que abandonam as aspirações profissionais para cuidar da casa e da família. Ou
seja, a vulnerabilidade social é algo que sem dúvida impacta no futuro
profissional dos jovens.
Outro ponto que parece desestimular os jovens é o
estigma das áreas ligadas à prestação de serviços e que são tradicionalmente a
porta de entrada para o primeiro emprego, como o telemarkerting.
São áreas que contam com muitas vagas abertas devido a alta rotatividade,
marcadas por altos níveis de estresse e pressão por resultados. Além disso, são
oportunidades de trabalho que demandam dedicação também aos fins de semana, o
que afasta ainda mais a procura, pois a rotina entra em choque com o tempo que
se pretende dedicar ao lazer.
Tal dificuldade em abdicar as horas de prazer e
entretenimento em detrimento de uma profissão, reflete uma cultura que vem
crescendo entre adolescentes e jovens, idealizada pela mídia televisiva, pela
publicidade e pela internet, onde novelas, vídeos e propagandas exaltam a todo
o momento o modo de vida despreocupado, da "vida fácil". Não que o
tempo desprendido ao divertimento não seja importante, o ponto chave é a
administração desse tempo. É saber que investir no presente trará oportunidades
futuras para o benefício também desse bem-estar pessoal.
A solução para o problema passa, portanto, por
vários âmbitos. O investimento em educação básica é essencial para a diminuição
da vulnerabilidade social, dando oportunidade para que os jovens possam fazer
escolhas. A melhoria das condições de trabalho e a maior valorização dos
profissionais prestadores de serviço é um passo importante para atrair jovens
para esse mercado. Por fim, alguns passos precisam ser dados pelos próprios
jovens, para que eles percebem seu papel na construção de suas próprias vidas.
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