Da Folha
de S.Paulo
O melhor ensino médio do país não está nas
grandes capitais. Apesar de escolas públicas e privadas do Rio e de São Paulo
terem se destacado isoladamente no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), do
MEC, levantamento feito pela Folha a partir das médias gerais mostra que alguns
municípios de médio porte do interior tiveram desempenho melhor do que as
maiores cidades do país. A Folha comparou a média dos alunos no Enem de 122
municípios que, segundo o IBGE, tinham mais de 200 mil habitantes. Esse corte
foi preciso porque cidades muito pequenas poderiam ter só uma ou duas escolas
avaliadas. Desse grupo, quem mais se destacou foi Petrópolis, na região serrana
do Rio, cuja média dos alunos das redes pública e privada no exame foi de
54,274 pontos.
Em seguida vêm São Carlos (SP), Vitória (ES),
Santa Maria (RS), Niterói (RJ) e São Leopoldo (RS). Duas grandes capitais
tiveram bom resultado: Porto Alegre (10º lugar) e Belo Horizonte (11º). O Rio
de Janeiro ficou na 28ª colocação, superado dentro do Estado por Petrópolis e
Niterói. São Paulo foi a 37ª, atrás, no Estado, de São Carlos, Jundiaí, São
José do Rio Preto, Limeira, Campinas, Santos, Marília, Presidente Prudente,
Taubaté e Ribeirão Preto.
As piores cidades na lista foram Itaquaquecetuba
(SP), Belford Roxo (RJ) e Boa Vista (RR). Duas características são marcantes
nas dez melhores. A primeira é que nove delas, exceto Porto Alegre, são de
pequeno ou médio porte (entre 200 mil e 500 mil moradores). A segunda é que, em
oito delas, há grandes universidades públicas ou privadas, o que facilita,
segundo secretários de Educação ouvidos pela Folha, a capacitação do corpo
docente. Para o pesquisador Creso Franco, da PUC do Rio, autor de vários
estudos sobre o desempenho de alunos no Saeb (exame do MEC que avalia a
educação básica) e Pisa (exame internacional que compara países), cidades do
interior costumam ter, em relação às grandes capitais, a vantagem de uma maior
participação da comunidade em suas escolas.
"O que já se sabia pelo Saeb é que muito
freqüentemente escolas públicas de cidades do interior são melhores que as
públicas de capitais. No interior, o diretor e os professores muitas vezes são
membros da comunidade à qual a escola serve e conhecem os pais e os alunos.
Tudo isso favorece o ensino e a aprendizagem." Os resultados do Enem
permitem também separar o desempenho do município por tipo de rede. Isso deixa
claro o abismo que separa a rede pública da privada. As sete cidades com melhor
desempenho apenas na rede pública são gaúchas: São Leopoldo, Santa Maria,
Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Canoas, Porto Alegre e Pelotas. As três menores
médias na rede pública estão no Nordeste: Olinda (PE), Jaboatão dos Guararapes
(PE) e Ilhéus (BA). Em seguida, porém, aparece um município paulista:
Itaquaquecetuba.
A média da rede pública de São Leopoldo (49,502
pontos), a melhor do país, colocaria a cidade apenas na 114ª colocação caso
fosse comparada com o desempenho das melhores redes privadas. Para a presidente
da Undime (associação de secretários municipais da Educação), Maria do Pilar
Silva, a comparação entre as redes pública e privada é injusta. "Não se
pode fazer a comparação sem levar em conta o fator socioeconômico. Com tudo o
que têm, os colégios particulares fazem é muito pouco. Tanto que, mesmo na rede
privada, nossos alunos têm resultados ruins em comparações internacionais. O
verdadeiro trabalho de transformação é feito na rede pública. Colocar um menino
da periferia numa universidade vale mais que cem alunos da melhor escola
particular."