Mecânico
de avião é técnico mais bem pago
05/08/2012
Levantamento
feito pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostra que, em diversos
Estados brasileiros, um diploma de ensino técnico já vale mais do que um
certificado de conclusão de curso universitário.
O
levantamento, ao qual a Folha teve acesso com exclusividade, identificou as 21
profissões técnicas mais valorizadas do Brasil, resultado da demanda da
indústria por mão de obra especializada. Lideram a lista manutenção em
aeronaves, mineração, mecatrônica, construção civil e petróleo e gás.
SALÁRIOS DE ATÉ R$
7.000
Os
salários médios de admissão variam de R$ 1.500 a R$ 2.500. Após dez anos de
experiência, oscilam entre R$ 3.600 e R$ 7.000.
A
experiência do baiano Roman Pinto, 35, sintetiza a valorização dos técnicos.
`Sou
graduado em história, mas precisava me inserir logo no mercado. Em 2010,
formei-me como técnico em edificações e agora ganho mais e trabalho menos`, disse à Folha, ao revelar
seu salário atual: R$ 3.400.
Em
São Paulo, um trabalhador com a mesma formação de Roman Pinto, só que com dez
anos de experiência, tem salário médio superior ao de um engenheiro ou um
farmacêutico com mesmo tempo de atuação na área.
No
Estado, a procura maior da indústria é por projetistas e técnicos em
manutenção, com remunerações iniciais em torno de R$ 4.100 e R$ 3.500,
respectivamente.
Os
números da CNI trazem os 18 Estados onde o trabalhador técnico está em alta. O
levantamento foi feito nas unidades do Senai
e com base em dados oficiais do Ministério do Trabalho.
Em
Pernambuco, um soldador recém-formado pode ganhar mais do que um médico que
acabou de desembarcar na profissão.
Em
Minas, um técnico das especialidades mais valorizadas exibe um contracheque
mais gordo que um advogado ou veterinário iniciante.
FORMAÇÃO
Além
dos salários competitivos, conta a favor da formação técnica a possibilidade de
entrar mais cedo no mercado de trabalho.
Nas
contas da confederação, um aluno faz um curso técnico em 18 a 24 meses. Já na
faculdade, o prazo, em geral, é de quatro anos.
`Há
dois prédios, um do curso técnico e outro do universitário. No primeiro, você
não precisa chegar ao último andar para começar a trabalhar. No segundo, você
só entra no mercado quando atingir o topo`,
comparou Rafael Lucchesi, diretor da CNI.
`Não
estou pregando contra a educação formal, só que o ensino técnico foca na
construção de projetos pessoais e na rápida integração do aluno no mercado de trabalho.`
Em
2011, o governo federal lançou o programa Pronatec
justamente para capacitar, com bolsas de estudo, jovens do ensino médio a
atender às demandas da economia.
Hoje,
há 882 mil trabalhadores com diploma técnico no país. O setor criou 36 mil
postos de trabalho de abril de 2011 a março deste ano.
O
resultado só não foi melhor porque a indústria tem sofrido com o câmbio
valorizado e com a desaceleração da economia doméstica.
Em
países desenvolvidos, os cursos técnicos de nível médio são escolhidos por
cerca de 50% dos estudantes, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico) fornecidos pela CNI.
`Os
europeus têm uma forte puxada para o ensino técnico, e boa parte da
transformação econômica da Coreia do Sul também vem daí`, argumenta Lucchesi.
NATUZA NERY - Folha de
São Paulo - São Paulo, SP