Jornal da Tarde, 17/03/2003 - São Paulo SP

MEC propõe o 4.º ano do ensino médio

Daniela Tófoli

 

Os 12 meses adicionais seriam optativos e dirigidos à preparação do aluno para o vestibular e para o mercado de trabalho. Estudantes aprovam a idéia, desde que o novo ano não seja apenas uma extensão dos três anteriores. Já os especialistas em educação estão divididos - alguns acham que, antes, é preciso melhorar a qualidade do ensino atual. A proposta será discutida com educadores em abril

 

Os três primeiros anos do ensino médio devem se preocupar com a formação do aluno e prepará-lo para ser um cidadão consciente do seu papel na sociedade. Apenas um quarto ano deveria se preocupar com as cobranças dos vestibulares e com a preparação para o mercado de trabalho. É por defender a idéia que o secretário de Ensino Médio e Tecnológico do Ministério da Educação (MEC), Antonio Ibañez Ruiz, está propondo a ampliação desta etapa do ensino. "Os alunos não ficariam mais aprendendo só o que cai no vestibular. Eles receberiam uma orientação especial no quarto ano." Ruiz defende que este ano seja opcional e que o estudante possa escolher o que quer estudar. "Para os que quisessem entrar na universidade, haveria um aprofundamento nas disciplinas que os ajudassem no vestibular", explica.

 

"Para os interessados na educação profissional, o quarto ano teria uma grade curricular específica e, quem vai logo para o mercado de trabalho, ganharia            uma preparação para ser comerciante ou secretária, por exemplo."

 

Se for para ter mais chances no vestibular ou para sair mais preparado para o mercado de trabalho, os estudantes não se importam de ficar mais um ano na escola - desde que ele não seja apenas uma extensão do que já é ensinado nos três anos atuais. "Acho a idéia válida se pudermos nos aprofundar nas áreas de interesse. Quanto mais a gente aprender, melhor", diz o estudante do 3.º ano de uma escola estadual Daniel Pereira, de 18 anos. "E teremos mais chances no vestibular, sem ter de pagar cursinho." Também no último ano, Alexandre Gutschow, de 17, é outro que aprova a idéia.

 

"Um quarto ano bem estruturado, com professores competentes, nos daria mais chances tanto de entrar na universidade quanto no mercado do trabalho", diz. "Mas acho que tem de melhorar a qualidade, porque, se for igual à que temos nesses três anos, não vai adiantar nada."

 

A estudante Michelle Gonçalves Malaquias, de 16 anos, garante que faria o quarto ano. "Só assim a gente teria chance de entrar em uma boa faculdade", afirma. "Mas, para dar certo, seria preciso bons professores, que fossem tão ligados aos vestibulares quanto os dos cursinhos. Não adiantaria nada continuar tendo aula do mesmo jeito dos três primeiros anos, porque o ensino está bem fraco." Para o presidente da União        Nacional dos Estudantes (UNE), Felipe Maia, o projeto é "interessante". "O aluno da escola pública teria mais oportunidade de se preparar e aumentaria seus conhecimentos numa área específica", diz. "Mas tem de melhorar a qualidade no todo." Aprimorar o ensino atual para, depois, ampliar

A proposta do MEC será discutida na segunda quinzena de abril com especialistas - que estão divididos. A educadora Guiomar Namo de Melo, que foi relatora da Reforma do Ensino Médio, acredita que, antes de se fazer a ampliação, é preciso melhorar os três anos já existentes. "Agora, se houver verba para melhorar a qualidade e também for criado o quarto ano, não vejo problema." Esse novo ano, afirma, só não pode ser uma extensão do que já é dado nos três anos. "Não precisamos de mais tempo para ensinar o mesmo conteúdo. É preciso que os alunos aprendam coisas novas."

 

A ex-secretária municipal de Educação, Eny Maia, que foi coordenadora dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, lembra que a reforma ainda nem foi implementada e que só depois disso uma extensão deveria ser discutida. "A proposta já previa um ensino modular, com disciplinas optativas que permitiriam ao aluno direcionar seus estudos para o mercado de trabalho ou a universidade", diz. "Acho que, antes de tudo, ela precisa ser parte do dia-a-dia das escolas."