MEC desiste do Enem do meio do ano

Universidades que usariam resultados do exame como vestibular terão de recorrer às notas de 2009 ou preparar outra seleção. Governo diz que suspendeu a prova porque não haverá tempo para criar uma estratégia de segurança que evite novo vazamento

FÁBIO TAKAHASHI / PATRÍCIA GOMES / RICARDO GALLO DA REPORTAGEM LOCAL

Folha de São Paulo, 11/03/2010 - São Paulo SP

 

O Ministério da Educação não irá mais realizar o Enem no meio deste ano, ao contrário do que estava previsto desde que o exame passou a ser usado para substituir os vestibulares em universidades federais.

Segundo o ministro Fernando Haddad (Educação), não houve tempo para organizar o exame com um modelo de segurança adequado (o exame vazou na edição do ano passado). Para as instituições que utilizariam a prova para selecionar turmas para o segundo semestre, o ministro sugeriu que sejam chamados alunos que fizeram o Enem do final de 2009. Na prática, serão convocados estudantes que foram reprovados neste primeiro semestre. As federais do Tocantins, do Maranhão, Rural do Semi-Árido (RN) e Tecnológica do Paraná disseram à Folha que seguirão a recomendação do ministro. As federais de Ouro Preto e Uberlândia decidiram voltar ao modelo do vestibular (essa última ainda pode usar nota do Enem 2009 como primeira fase). A federal de Alfenas também deve fazer vestibular. Ao mudar o Enem, o governo Lula  queria acabar com o vestibular -considerado um problema para o ensino médio, por exigir conhecimentos específicos das disciplinas, com pouca contextualização. As questões do Enem buscam integrar os conhecimentos das matérias. Representantes de universidades demonstraram preocupação com a decisão. Um dos problemas apontados é o perfil de aluno que será chamado nas escolas que usarem o Enem de 2009. Esses estudantes tendem a ter desempenho baixo e pouca motivação para o curso, o que pode causar evasão. Para quem fará vestibular próprio, o prazo para realização da prova é menor que o habitual. Segundo a federal de Ouro Preto, o processo deveria ter começado em janeiro. Na avaliação do MEC, a não aplicação do Enem no meio do ano não terá grande impacto, pois o número de vagas oferecido não é elevado (quantidade ainda não definida). Além disso, o ProUni (bolsas em universidades particulares) já usava um Enem para duas seleções.

Atraso - O ministro disse ontem que  não houve tempo de convencer órgãos de fiscalização (AGU e TCU) a aceitar um modelo de logística considerado como seguro pelo MEC. Haddad quer contratar instituições experientes (Cespe e Cesgranrio), sem licitação. A avaliação dele é que a prova de 2009 vazou porque uma empresa com pouca tradição venceu a licitação. A Folha apurou que a nova prova deve ser aplicada após o segundo turno das eleições. Para o governo, há mais risco de fraude por ser ano eleitoral. Enquanto a seleção do meio do ano está em preparação, as federais ainda definem as turmas do primeiro semestre -o vazamento da prova no ano passado atrasou o calendário. Amanhã, acaba o prazo de matrícula para aprovados na terceira etapa do Sisu (seleção de calouros via Enem). A sobra de vagas nas primeiras rodadas surpreendeu o próprio MEC. Na última etapa foram oferecidas 21.701 vagas; na semana que vem será possível saber quantas sobraram. As escolas continuarão chamando integrantes de lista de espera.