MEC coloca como `modelo` redação do Enem que chama Venezuela de ditadura

30/07/2012

 

Após mudar os critérios de correção da redação do próximo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o MEC (Ministério da Educação) lançou nesta segunda-feira o guia de redação da prova com o objetivo de orientar os alunos. Uma das redações destacadas como bom exemplo de texto chama a Venezuela de `ditadura` e erra a grafia do presidente daquele país.

O guia, de 48 páginas, foi elaborado pela equipe da Daeb (Diretoria de Avaliação da Educação Básica) do instituto para esclarecer o que é um texto dissertativo-argumentativo, detalhar os critérios de correção e apresentar exemplos de provas que conseguiram a pontuação máxima (1 mil pontos). O Enem está marcado para os dias 3 e 4 de novembro.

Segundo a pasta, serão rodadas inicialmente 1,7 milhão de cópias, que serão distribuídas até setembro para alunos e professores de escolas públicas do país.

Em maio, o MEC anunciou mudanças na forma de correção da redação do Enem; a principal delas foi a redução da nota de discrepância de 300 para 200 pontos, o que vai levar a um aumento do número de textos que serão revisados. A pasta também instituiu uma nota de discrepância dentro de cada uma das cinco competências da redação - superior a 80 pontos. `O filtro é muito mais rigoroso e agora está público e transparente o que se espera de cada competência, onde é avaliado, onde pode perder pontos, tanto o corretor quanto alunos sabem antecipadamente os parâmetros`, disse o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, em encontro com jornalistas.

Uma das competências avaliadas é o domínio da norma culta da língua escrita. Logo no primeiro exemplo, o manual destaca a redação `O fim do Grande Irmão`, feita por uma estudante do Rio de Janeiro. Ao comentar o uso indiscriminado das redes sociais, a aluna destaca que perfis em redes como Facebook e Twitter servem como `ferramenta política e social para aumentar a credibilidade de determinadas personalidades, como ocorre com Hugo Chaves em sua ditadura na Venezuela`. O certo é Hugo Chávez. `A participante demonstra ter compreendido a proposta da redação e desenvolvido o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo`, diz o guia. `No desenvolvimento, são apresentados os argumentos que comprovam a opinião negativa da participante sobre a ação das redes sociais`.

O presidente do Inep, Luiz Cláudio Costa, disse que a estudante usou `a norma culta com perfeição` e aportuguesou o nome do presidente venezuelano. `A comissão entendeu que isso não dá para penalizar. Não é um erro que cause nenhum dano ao conhecimento da estudante`, afirmou. Questionado se não causava constrangimentos ao governo destacar uma redação que chama de ditadura a Venezuela, Luiz Cláudio respondeu: `A redação não é avaliada pela sua ideologia. O Brasil é uma democracia que respeita a liberdade de expressão, respeitamos a posição política de cada estudante, independentemente de concordamos ou não`.

A partir deste ano, um acordo firmado com o Ministério Público Federal (MPF) permitirá que os estudantes tenham acesso às redações corrigidas apenas para fins pedagógicos. `O que estamos discutindo são os procedimentos de segurança para que (os alunos) tenham acesso. É um direito individual e isso tem de ser preservado, estamos construindo como vão ser os procedimentos`, afirmou Mercadante.

 

Agência Estado - UOL Educação -- São Paulo, SP