MEC
amplia currículo alternativo para tirar ensino médio público da crise
17/05/2012
Neste
ano, 1.660 escolas da rede pública aderiram ao Programa Ensino Médio Inovador (Proemi), criado em 2009 pelo Ministério da Educação com o
objetivo de reformular uma das mais problemáticas etapas do ensino. No total,
segundo o Ministério da Educação, o programa passou a atender 10% das escolas
públicas com ensino médio, o que representa uma adesão de 2.015 unidades nos 27
estados.
Em
2011, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep), a taxa de reprovação no ensino médio foi de
13,1%, o maior índice desde 1999. Além disso, 9,6% dos estudantes neste ciclo
abandonaram a escola - no primeiro ano do ensino médio, a taxa de abandono foi
de 11,8%. As taxas de reprovação e abandono no ensino fundamental foram de 9,6%
e 2,8% no mesmo período, respectivamente.
O
Proemi é uma tentativa do governo de desatar o grande
“nó” da educação pública do país. Os problemas encontrados desde as primeiras
séries do ensino fundamental vão se acumulando ao longo dos anos e transformam
o ensino médio em um grande `gargalo`. Com um extenso conteúdo espremido em três anos letivos,
o ensino médio apresenta alto índice de evasão escolar, alunos acima da idade
adequada na série e baixos índices de proficiência em matérias básicas como
português e matemática.
A
reportagem do G1 visitou escolas no Distrito Federal e em Pernambuco que
aderiram ao ensino médio inovador, se destacam por seus trabalhos e se tornaram
uma exceção entre as escolas públicas.
Na
cidade de Paudalho, na Zona da Mata de Pernambuco, a
Escola Estadual Monsenhor Landelino Barreto Linse, localizada na Vila Asa Branca, transformou a
realidade da comunidade. Os estudantes passaram a ter aulas de práticas
teatrais e sustentáveis; linguagem e cultura; educação e saúde; atualidades e
cultura digital; e comunicação e uso de mídias.
No
Distrito Federal, a escola Setor Leste possui ensino integral e oferece aulas
para que os alunos tirem dúvidas no contraturno. Os alunos têm aulas de circo, dança, ginástica olímpica, natação, inglês, francês e
espanhol. No programa desde 2010, a Setor obteve o melhor desempenho no Enem de
2011 entre as escolas públicas do DF.
A
escola rural Centro de Ensino Fundamental (CEF) Agroubano
do Caub I se focou em discussões sobre os 50 anos de
Brasília e no resgate da trajetória da Missão Cruls,
responsável pela demarcação da área do futuro Distrito Federal.
O
Programa Ensino Médio Inovador prevê oferecer disciplinas alternativas e
aumentar a carga horária para tornar a escola mais atraente. Para fazer parte
do programa, as unidades têm de fazer uma proposta de oferecer disciplinas que
variam de acordo com as especificidades da região e estejam dentro de quatro
campos de conhecimento: trabalho, ciência, cultura e tecnologia.
As
matérias obrigatórias previstas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
também devem estar no currículo. E é necessário ampliar a jornada escolar para,
no mínimo, 3.000 horas para os três anos do ensino médio, ou seja, o mínimo de
5 horas de atividades diárias. Atualmente, pelo currículo tradicional, a lei
prevê 4 horas de aulas por dia, sendo pelo menos 2.400 durante todo o ensino
médio.
A
previsão do ministério é atender mais 4 mil escolas no
próximo ano e alcançar 100% delas até 2015. A estimativa de investimento para
este ano é de R$ 140 milhões.
Evasão e baixo
rendimento
Problemas
de evasão e baixo aproveitamento no aprendizado são detectados desde o início
da educação básica, mas é no ensino médio que a situação atinge níveis alarmantes.
A avalanche de conteúdo dos 3 anos do ensino médio
perdeu o sentido e não se sabe se o objetivo do ensino médio é preparar para o
vestibular ou para o mercado de trabalho. Sem a expectativa de cursar uma
universidade e longe de encontrar especialização profissional na escola, muitos
adolescentes abandonam os estudos para trabalhar e reforçar a renda familiar.
Segundo
dados do Movimento Todos pela Educação coletados pela Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), só metade dos jovens brasileiros conclui
essa etapa do ensino na idade esperada (até os 19 anos). Desses, apenas 11%
aprendem o considerado ideal em matemática.
Todos
os anos, os rankings de desempenho dos estudantes no Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) revelam o fracasso do ensino médio na rede pública. Em 2010,
nenhuma escola estadual ou municipal apareceu entre as 100 primeiras com as
melhores notas. As 13 escolas públicas que aparecem no universo das 100
melhores são colégios de aplicação de universidades, militares, escolas
federais e técnicas.
Mudanças
Celso
João Ferretti, doutor em história e filosofia da educação, do Centro de Estudos
de Educação e Sociedade, diz que é favorável à proposta, mas colocá-la em
prática não é simples porque não se trata apenas de uma reforma curricular. “É
uma mudança da ‘forma de ser’ da escola. Tem de haver uma mudança na formação
dos professores, criar possibilidade de mantê-lo na mesma escola, condições que
não se encontram na rede pública. Por isso é uma proposta a ser realizada”,
afirma.
Para
Ferretti, o projeto é interessante pois leva o
estudante a ter uma visão mais clara da vida que tem. “A proposta é que os
diferentes campos de saberes se articulem para desenvolver uma visão a respeito
do mundo, da política, da tecnologia e da economia, entre outros.”
Priscila
Cruz, diretora executiva do Todos pela Educação, concorda que a mudança vai
além do currículo escolar. “É importante resolver o nó do ensino médio. Os
resultados de proficiência são muito pequenos e há dez anos não há melhora. Se
não houver outro modelo, não será possível aproveitar os avanços dos ciclos
anteriores. O ensino médio empaca qualquer outro avanço.”
Priscila
aprova o modelo do ensino médio inovador, pois
sinaliza para maior flexibilidade, sai do ‘modelo enciclopédico’ com 14
disciplinas obrigatórias que não aprofundam em nenhum tema, mas diz que é
necessário ampliá-lo.
“Não
dá para fazer mudança sem passar por questões complicadas. Tem de mudar
estruturamente, fazer o aluno passar mais tempo aluno na escola, pensar na
formação do professor, no currículo. Assim como uma orquestra onde todos os
instrumentos tocam bem e harmonicamente, um fortalece e outro, senão a música
fica ruim`, diz Priscila.
* Colaboraram Jamila Tavares, do G1 DF, e Luna Markman, do G1 PE
Vanessa Fajardo*
Do G1, em São Paulo -
G1 Globo.com - Rio de Janeiro, RJ