MEB luta para continuar
ensinando jovens e adultos a viver em sociedade
12/11/2011
Ligado à Igreja Católica, Movimento de Educação de
Base alfabetiza e forma a consciência de moradores de comunidades carentes
desde 1961
Escola Radiofônica de Petrolina (Foto: Divulgação)
Vinculado a Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), o Movimento de Educação de Base (MEB) é
constituído como sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, e
tem como objetivo alfabetizar e dar base a jovens e adultos.
Com sede em Brasília, o organismo realiza desde 21 de março de 1961 ações
voltadas para a educação popular do Norte e Nordeste e, atualmente, em parceria
com o Governo Estadual, também atua em Minas Gerais. No seu aniversário de 60
anos, o MEB não comemora a vida que leva atualmente, aos trancos e barrancos.
“Hoje, o MEB funciona como uma
assessoria. Trabalhamos com alguns convênios com secretarias de educação dos
estados. O Ministério da Educação (MEC) não faz mais convênios desde 2007 e
isso dificultou porque nosso trabalho funciona no corpo a corpo. Não dá para
irmos a todos os lugares procurando convênios. Gostaríamos que fosse diferente
e que o governo brasileiro tivesse consciência da urgência e necessidade
disso”, comenta o padre Gabriele Cipriani,
coordenador pedagógico do MEB.
Capacitação de alfabetizadores no Piauí
(Foto: Divulgação)
O MEB surgiu combinando o
trabalho que a Igreja Católica estava fazendo via rádio na época, no Nordeste,
com a vontade de investir na educação. Financiado pelo governo, o projeto tinha
como objetivo alfabetizar e dar lições de vida através de trasmissões
por pequenas emissoras. Era a melhor forma de reunir um número considerável em
uma “sala de aula” (no caso, a própria casa ou o trabalho dos ouvintes). O MEB
passou por uma fase difícil durante o governo militar. Falar na rádio foi
proibido, mas o projeto passou por cima das limitações sem ser interrompido.
Apesar de desenvolvido pela CNBB, o MEB não tinha como foco a religião.
“O objetivo era e é ainda hoje a
formação de comunidades conscientes e prontas para seu desenvolvimento,
autonomia e para a busca de alternativas de trabalho. A inspiração são as ideias do Paulo Freyre, da educação em diálogo entre os
seres humanos. A opção preferencial pelas regiões Norte e Nordeste é porque
elas estão definidas como áreas populacionais do país em que os indicadores sócioeconômicos revelam situação de pobreza e, consequentemente, têm índices sociais e econômicos abaixo
dos desejados", conta o padre Gabriele.
O Padre Gabriele (Foto: Divulgação)
Os números não são desanimadores:
"Temos alfabetizadas 416.684
pessoas e 25.087 educadores populares só em Minas Gerais, em seis anos. No
programa do Piauí, alfabetizamos 46.792 pessoas e capacitamos 4.052 educadores
em três anos”.
As ações de mobilização social,
de alfabetização de jovens e adultos e de educação de base são de
responsabilidade de equipes regionais em cada uma das unidades da federação. A
coordenação pedagógica, o planejamento, o controle administrativo e a avaliação
de resultados das ações são monitorados pela Equipe Nacional, localizada em
Brasília.
Conheça a
história de pessoas que experimentaram o MEB:
Vice-prefeito de Jutaí
(AM) Antônio Cândido
Gomes (Foto: Divulgação)
Vice-prefeito de Jutaí,
município apresentado pelo Globo
Ecologia na série O Bem Comum, Antônio Cândido Gomes cresceu em Acapuri de Baixo sem saber ler e escrever. Na adolescência,
estudou junto ao Movimento de Educação de Base (MEB) e, com o tempo, acabou se
tornando monitor de alfabetização. Na sequência,
virou líder comunitário.
“Continuei os estudos e me formei
em pedagogia em um curso superior. Acabei entrando na política e me elegi por
duas vezes vereador. Agora sou vice-prefeito e professor da rede estadual. O
MEB foi um trabalho de grande importância em Jutaí,
que acabou, mas tem sua cultura seguida até hoje”, conta o Antônio Cândido.
Maria Helena estudou no MEB (Foto: Reprodução)
A trabalhadora rural Maria Helena
da Silva começou a trabalhar muito cedo e foi impedida pelos pais de estudar.
Aos 57 anos, ela comemora a mudança na sua vida. “Eu tinha inveja da leitura.
Vim conseguir agora, depois de velha. O MEB me ajudou a desenvolver. Com MEB,
eu aprendi a agir, desenvolver todo tipo de negócio.
Eu não sabia de nada. Eu pegava uma conta, olhava para ela e era a mesma coisa
que estar olhando pra um pote d’água. Hoje, sei o dia que é para pagar, o dia
que vence”, conta Maria Helena.
Salviano Ribeiro prestava serviço
voluntário para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) em 2005, quando o Movimento
de Educação de Base (MEB) chegou a Fortuna, município maranhense onde foi
criado. Convidado a cadastrar-se como alfabetizador, acabou ganhando o posto de
supervisor e passou a desempenhar a função em sua cidade e nas vizinhas:
Salviano deu aula no MEB (Foto:
Reprodução)
“Despertou em mim o desejo de
continuar meus estudos, pois eu tinha só o ensino médio. Eu me matriculei em um
curso de pedagogia visando adquirir conhecimentos que enriqueceriam mais meu
trabalho dentro do movimento. Na minha trajetória no MEB já desempenhei várias
funções, como alfabetizador, coordenador, supervisor e formador. Posso afirmar
que o MEB é parte da minha história. Ele fundamente-se na metodologia do ver,
julgar e agir. Hoje eu uso a metodologia do MEB não só como educador, mas como
cidadão crítico e participativo na sociedade atual, observando, analisando,
fazendo juízo de valor e agindo conscientemente nas mais diversas situações do
meu cotidiano”.
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