Matrículas de jovens e adultos caem pela
metade em SP
06/09/2011
Para especialistas, País tem sido ineficiente em mobilizar alunos que não
completaram ensino fundamental e médio na idade adequada
MARIANA MANDELLI As matrículas em Educação de Jovens e Adultos (EJA) caíram
pela metade nos últimos sete anos no Estado de São Paulo. Em 2004, existiam
1.177.812 alunos matriculados na modalidade em escolas paulistas. Em 2010, dado
mais recente, o número despencou para 606.029 – queda de 48,5%. Os dados, que
constam no Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC), estão no Plano
Plurianual 2012-2015 do governo do Estado e retratam todas as redes de ensino –
estadual, municipal e particular. Em São Paulo, 98,8%
dos alunos de EJA são atendidos nas redes públicas – destes, 61,9% estudam em
escolas estaduais e 36,9% em unidades municipais. A EJA é uma modalidade de
ensino destinada a quem não completou o ensino fundamental e médio na idade
adequada por algum motivo. Ela pode ser oferecida em cursos presenciais, a distância ou mesmo com exames supletivos. Desde 2007, a
EJA recebe financiamento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Atualmente, o índice de analfabetismo funcional na Região Sudeste é de 16%,
segundo o Instituto Paulo Montenegro. Não há dados por Estado.
Especialistas em EJA apontam vários motivos para o declínio – não apenas em São
Paulo, mas também em outros Estados. “A queda é observada em todo o Brasil e o
principal motivo é a ineficiência de mobilização do público”, diz Maristela
Barbara, diretora de formação e acompanhamento pedagógico da organização não
governamental Alfabetização Solidária (AlfaSol).
Para ela, falta atenção do poder público. “Só 24% das escolas do Brasil
oferecem EJA. Os colégios têm de estar onde estão esses alunos”, diz. “Há mais
de 30 milhões de analfabetos funcionais, mas apenas 3,7% estão matriculados na
modalidade.”
Para os especialistas, outra dificuldade é o fato de a EJA reproduzir o ensino
regular. “O modelo está em crise e não combina com o estilo de vida dos
alunos”, afirma Orlando Joia, diretor
de curso do Colégio Santa Cruz. “Além disso, o saldo demográfico está
negativo: tem mais gente saindo de São Paulo do que chegando e, normalmente,
eram essas as pessoas atendidas.” Vera Masagão, da
Ação Educativa, afirma que ainda faltam políticas específicas dos Estados e
municípios para a modalidade. “Devemos pensar em modelos mais flexíveis, que
devem ser incentivados pelos governos”, afirma. “Muitos alunos trabalham e é difícil
conciliar tudo.” Para a Secretaria de Educação de São Paulo, a queda de
matrículas é reflexo da correção do fluxo
escolar – ou seja, os alunos estão estudando nas séries em idade correta. De
acordo com a pasta, São Paulo tem, entre a população de 15 a 17 anos, a maior
taxa de escolarização no ensino médio do País.
No caso do ensino fundamental oferecido por EJA, a secretaria afirma que a
queda de matrículas se deve ao esgotamento do fluxo, que era “ascendente por
conta da demanda reprimida no passado e por causa das exigências do mercado de
trabalho”. O governo ainda lembra que uma deliberação do Conselho Estadual de
Educação (CEE) elevou, em 2009, a idade mínima para ingresso na EJA – o que
obrigou uma parcela dos alunos a se matricular no ensino regular. A rede
privada de ensino paulista é responsável por apenas 1,2% das matrículas de EJA
– em 2001, essa taxa era de 11,2%. Algumas escolas fecharam cursos nos últimos
anos por diversos motivos. No Colégio Nossa Senhora das Graças, o curso, que
era oferecido com apoio da Ação Social da Associação Pela Família, acabou por
causa da adequação à lei 12.101, que estabeleceu novas normas para entidades
filantrópicas. No Colégio Rainha da Paz, a baixa demanda deve levar ao
fechamento das turmas em 2012.
O Estado de São Paulo