Lula quer toda sociedade engajada no Programa Brasil Alfabetizado

08/09/2003 17:43

 

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lançar hoje, 8, o Programa Brasil Alfabetizado, no Palácio do Planalto, afirmou que nós temos de alfabetizar os nossos corações para ter um pouco de sentimento com aquele que não teve a mesma oportunidade que tivemos. A seu ver, o problema de alfabetizar o Brasil é menos de dinheiro, da ausência de sala de aula e de educadores, mas da disposição política. “Temos a lei, uma rede pública muitas vezes subutilizada e precisamos tomar esta decisão política que tomamos”, disse.

 

O presidente quer que o Ministério da Educação, ao qual o Brasil Alfabetizado é ligado, institua prêmios para prefeituras que consigam erradicar o analfabetismo e crie a Semana Nacional de Alfabetização. Lula alertou que é preciso parar e perguntar qual o nosso papel enquanto cidadão e cidadã? Qual a nossa responsabilidade enquanto brasileiro, empresário, igreja católica ou evangélica? O que, no fundo, fazemos para dar a nossa contribuição à alfabetização? Entende que é preciso ir ao encontro dos analfabetos. “Um problema que vamos ter é que tem gente com vergonha de ser analfabeto. Então, não podemos ficar esperando que o analfabeto nos procure. Temos de adotar uma política como uma campanha de vacinação, onde o vírus que queremos matar é o analfabetismo.”

Segundo o presidente, “a pessoa pode ter o direito de comer e não querer; de viajar ou não, mas ser alfabetizado não tem de ser direito, tem de ser obrigação”. Disse que “precisamos assumir a responsabilidade; essa não é uma tarefa apenas do ministro da Educação, do secretário de Educação, mas nossa, brasileiros e brasileiras que aprenderam a ler para socializar conhecimentos”. A seu ver, temos obrigação moral, ética, humana, de criarmos as condições para aqueles que desejam ter um lugar certo para serem alfabetizados.

 

Durante a solenidade de lançamento do Programa Brasil Alfabetizado, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, assinou oito protocolos de intenção com instituições de ensino, de estudantes e com empresas. A finalidade das parcerias é promover e expandir a alfabetização de jovens acima de 15 anos e de adultos. O ministro saudou os quase 20 milhões de brasileiros que “amanhã não lerão a notícia desta solenidade histórica, feita para eles”. Lembrou que nos quase 200 anos de Independência do Brasil, imperadores e presidentes pouco fizeram para ensinar todos os brasileiros a ler e a escrever e que é “injusta uma nação que tem uma casta de leitores e uma casta de analfabetos”.

 

Na opinião do ministro, a alfabetização libera a energia potencial das pessoas, tanto quanto a construção de uma hidrelétrica, a descoberta de um poço de petróleo. A seu ver, o Brasil inteiro pode se transformar em uma imensa sala de aula, onde 100 milhões de adultos poderão ensinar a 20 milhões de analfabetos o caminho da construção do Brasil alfabetizado. “O presidente tem carisma próprio, liderança própria, ele é o grande missionário, mas a gente só vai alfabetizar se fizer o que foi feito com as gotinhas; agora vamos dar letrinhas.”

 

Para o ministro, a tarefa mais importante é criar o sentimento de que é preciso o envolvimento de todos os brasileiros na alfabetização. “É como o presidente falou: não é possível uma pessoa ter curso superior e em casa ter uma empregada doméstica analfabeta. Como é possível que isso aconteça com naturalidade? Se fosse uma doença contagiosa, não tinha.” Disse ainda que este é um programa que visa a abolir o analfabetismo e não há como erradicar o analfabetismo se as crianças não forem alfabetizadas.

 

“Acreditamos que, pouco a pouco, o programa – prosseguiu - vai sensibilizar a opinião pública sobre a forma voluntária. Com a entrada do presidente Lula, agora é uma campanha social, nacional, de todos, não mais do governo. Em quatro anos, o Brasil sai da lista dos países com analfabetos e entra na lista de países alfabetizados.”

 

Unesco - Na oportunidade, o representante da Unesco no Brasil, Jorge Werthein, afirmou que, por meio da alfabetização, se encontra a luz e que alfabetização e educação são estratégias para o desenvolvimento econômico, social e político. Erivan Hilário, educador de 19 anos, filho de agricultores, disse que a fome no País não é só alimentícia, mas do saber, de conhecimentos. Erivan alfabetiza 15 trabalhadores rurais no Assentamento do MST em Santa Maria da Boa Vista, a 800km de Recife. Roberto Pereira de Araújo, 34 anos, casado, pai de dois filhos, natural de Caicó, Rio Grande do Norte, lembrou que não teve oportunidade de ser alfabetizado, porque tinha de ir trabalhar. “A seca era tanta, que se a gente não se deslocava para outro lado, se não trabalhasse, até o jegue morria de fome.”

 

Participaram da solenidade de lançamento do Brasil Alfabetizado, que teve o Hino Nacional executado por professores da Escola de Música de Brasília, a primeira-dama Marisa Letícia, o corregedor-geral da União, Waldir Pires, empresários, ministros e parlamentares. Foram apresentados dois vídeos, um do Brasil Alfabetizado, com uma reportagem no Rio Grande do Norte; e o Tecendo Saber, das Fundações Vale do Rio Doce e Roberto Marinho. O cantor Moraes Moreira, acompanhado de três músicos, cantou Indagações de um Analfabeto e Forró do ABC, de sua autoria.

 

 

Repórter: Susan Faria

 

FONTE: http://www.mec.gov.br/acs/asp/noticias/noticiasDiaImp.asp?id=4195