Hoje em Dia, 06/04/2006 - Belo Horizonte MG

Jovens voltam à sala de aula após anos

Celso Martins e Augusto Franco

 

O artesão Bruno César Campos, 24 anos, morador do Bairro Nossa Senhora das Graças, Noroeste de Belo Horizonte, tem um grande sonho: entrar para a faculdade para fazer o curso de Ciência de Computação. Depois de três anos sem estudar, Bruno César voltou com toda força para a sala de aula para concluir o Ensino Fundamental. Ele é um dos 90 alunos do núcleo 502 do Pro-Jovem, que funciona na Escola Municipal Maria de Rezende Costa, no Bairro Alípio de Melo, Noroeste da capital. O Pro-Jovem é um programa realizado em parceria entre o Ministério da Educação, secretarias especiais ligadas ao gabinete da Presidência e prefeituras das capitais do Brasil. É voltado para jovens de 18 a 24 anos que concluíram a 4ª série do ensino fundamental, mas não chegaram a terminar a 8ª, e não têm carteira assinada. “O Pro-Jovem é uma forma de combater a violência e de incentivar o envolvimento da comunidade para resolver os seus problemas. Além das matérias tradicionais, os professores dão dicas de cidadania e ensinam de acordo com a potencialidade de cada aluno", diz Bruno César. O envolvimento do artesão com o projeto foi tanto que ele despertou também o interesse pela poesia e a música.

 

Um dos poemas feitos em sala de aula por Bruno César emocionou a professora de português, Mirella Carvalho. Para cada uma das disciplinas, o estudante fez uma estrofe encaixando o nome dos professores. “Os professores do Pro Jovem acreditam no potencial dos adolescentes. Antes de entrar para o programa, eu tinha vergonha de expor as minhas idéias, mas agora tenho vontade de participar de tudo", disse a estudante Dayanne Alves de Souza, 21 anos, moradora do Bairro Paquetá, na Região da Pampulha. Todos os dias ela anda três horas a pé para ir e voltar da escola. Com a economia da passagem, repassa integralmente os R$ 100 que recebe para os seus pais. Para receber o dinheiro, o estudante inscrito no Pro-Jovem é obrigado a ter uma freqüência de 75% e a fazer os trabalhos. “No Pro Jovem, ninguém é obrigado a fazer nada. Os professores incentivam sempre os trabalhos e discussões em grupo", destaca a aluna Cacenilda Pereira da Silva, 21 anos, que entrou no programa no ano passado. Ela lembra que os próprios inscritos no Pro Jovem ajudam na limpeza da escola e evitam qualquer tipo de depredação.

 

Extra-classe - Além dos benefícios de bolsa, aulas em quatro áreas de interesse e encaminhamento ao mercado profissional, os alunos do núcleo do Alípio de Melo são beneficiados com atividade extra-classe, que complementam a formação. Entre as novidades, os alunos afirmam estar eufóricos com a notícia de que, até o final do mês, aprenderão noções básicas de informática e internet. Eles vão receber 10 computadores. No Pro Jovem, os alunos têm quatro horas de aula, de segunda a sexta-feira. Uma das disciplinas é a Qualificação para o Trabalho, que treina os adolescentes para as áreas de vestuário, alimentação, construção e prestação de serviços. A coordenadora do núcleo 502 do programa, Dina Maria Coelho Pereira, afirma que os casos de violência são isolados e as atividades são elaboradas para preparar o jovem para o mercado de trabalho. Segundo ela, cada núcleo tem autonomia, mas deve buscar seus próprios recursos para incrementar a formação de seus alunos.