Jovem que largou escola volta a estudar e é finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa

01/11/2008 13:40:44

 

Fortaleza – O trabalho na roça, desde criança, fez Ubiranildo da Silva parar de estudar. Aos 17 anos, na quarta série, o adolescente de Encanto (RN) achou que não conseguiria chegar muito longe na vida, por não conseguir conciliar o trabalho – que ajudava a sustentar os dez irmãos – com a escola. Cinco anos mais tarde, um amigo o incentivou a voltar aos estudos. O lugar onde Ubiranildo viveu sua juventude difícil virou tema de uma poesia. E premiada. O jovem de 22 anos é um dos finalistas da Olimpíada da Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.

            A idade destoa dos demais colegas de competição, que têm entre 10 e 12 anos. Mas Ubiranildo subiu ao palco do Teatro José de Alencar na sexta-feira, 31, junto com as crianças semifinalistas da olimpíada para provar que nunca é tarde. Recebeu uma medalha de bronze, um certificado e saiu de lá com a certeza de que pode voltar a pensar grande. "Nem mil palavras poderiam representar o que estou sentindo nesse momento", diz. "Agora, quero continuar os estudos e Deus sabe do meu futuro. Só sei que vou longe".

Ubiranildo cursa o sexto ano do ensino fundamental na escola municipal Maria Pereira Leite. Entre os alunos de sua turma, ele é o único adulto, mas afirma não se incomodar com isso; em suas palavras, o que importa é estudar. Com os olhos marejados, Ubiranildo lembra como conseguiu transformar elementos de seu mundo na poesia vencedora de uma etapa do concurso. "Sempre gostei de pegar um caderno e escrever um poema, um texto, mesmo fora da escola. Na minha poesia, foi só juntar as coisas que eu conhecia: o sítio, o gado, o lado bom e o lado ruim de viver na roça", conta.

Finalistas – Na etapa regional da olimpíada em Fortaleza, gênero poesia, foram classificados nove estudantes e nove professores para a final em Brasília, no dia 1 de dezembro. Três são do Ceará, dois do Piauí, dois do Maranhão e dois do Rio Grande do Norte. Eles se juntam aos outros 19 já classificados, das regiões sul e sudeste. Na etapa nacional serão escolhidos 15 vencedores, três em cada categoria: poesia (quarta e quinta série), memória (sétima e oitava série) e artigo de opinião (segundo e terceiro ano do ensino médio).

            De acordo com a secretária de educação básica do MEC, Maria do Pilar Lacerda, o lado mais interessante da olimpíada é o processo constante de formação de professores, já que eles têm de aperfeiçoar os métodos de ensino da leitura e da escrita. Além disso, o material produzido para as aulas, muitas vezes, incorpora-se ao projeto político-pedagógico da escola. "E uma escola com projeto consistente consegue aumentar seu índice de desenvolvimento da educação básica e diminuir a evasão. Quem garante, efetivamente, a transformação na escola é o professor, por isso o MEC tem investido cada vez mais na formação desses profissionais", enfatiza.

            Parceria do Ministério da Educação, da Fundação Itaú Social e do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), a Olimpíada da Língua Portuguesa é uma forma de estimular nos estudantes o gosto pela leitura e aprimorar o ensino da escrita em escolas públicas. Ana Beatriz Patrício, diretora da Fundação Itaú Social, acreditava ser um grande desafio tornar a iniciativa uma política pública. "Mas tinha certeza que teríamos êxito, porque ações em educação se constroem com muita competência e, sobretudo, com calor na alma", ressalta.

O tema central de 2008 é o Lugar Onde Vivo. Esse ano, a iniciativa teve a participação de 6 milhões de alunos, 200 mil professores e 55 mil escolas, em 5.444 municípios de todo o país. Do Ceará, participaram 4.399 escolas (58% do total da rede pública); do Maranhão, 2.967 (25%); do Piauí, 2.419 (39%) e do Rio Grande do Norte, 1.326 (44%).

 

Letícia Tancredi

 

Fonte:

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=11536