Jornal do Commercio, 02/10/2005 - Recife PE

Jovem e trabalho

Editorial

 

Em tempo de crise política e de semiparalisia administrativa, assinalamos alguns programas federais, estaduais e municipais que poderão, se levados à frente, melhorar a capacitação dos jovens para a vida profissional e seu acesso ao emprego. Em parceria com prefeituras municipais e com a sociedade, o ProJovem se propõe a aumentar muito o número de trabalhadores nessa faixa etária com diploma de curso profissionalizante, para 150 mil em todo o País. O outro programa, o Escola da Fábrica (mais voltado para o interior), contemplaria 50 mil jovens até o final do próximo ano. Esses dois programas são federais, enquanto o Estação Futuro é oferecido pelo Governo do Estado. O ProJovem está abrindo 8.400 vagas no Recife para jovens entre 16 e 24 anos, trabalhando em comum com a PCR, e 1.200 já estão sendo atendidos na Estação da Juventude do Ibura. Mais sete dessas estações estão sendo implantadas em diversos bairros da cidade.

 

Os participantes recebem uma bolsa mensal de R$100 e são selecionados dentre os que não concluíram o ensino fundamental, estão fora da escola e não têm vínculo trabalhista. É positivo que o programa se caracterize por dar oportunidade a esses adolescentes de concluírem o fundamental, oferecer orientação profissional e realizar ações comunitárias de interesse público. É de se louvar e dar todo o apoio a esse tipo de iniciativa, em que os poderes públicos fazem ao menos um mínimo de investimento no jovem. Os resultados já se fazem sentir em todo o País, em Pernambuco, no Recife. E o grande fator de sucesso desses programas é a participação neles da iniciativa privada, com cada vez maior número de empresas investindo em projetos de responsabilidade social, seus ou em parceria com governos. Conforme estudo do conceituado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Pernambuco é um dos Estados em que mais aumentou o número de empresas com ações sociais.

 

No campo do ensino, algumas delas criaram cursos profissionalizantes, às vezes em parceria com ONGs, para atender jovens carentes. A TIM e a Roval, por exemplo, já capacitaram dezenas de jovens em telemarketing e em atendimento em farmácia de manipulação. O Programa Estação Futuro, do Governo do Estado, que abriga o Emprego Jovem, já habilitou e encaminhou centenas de adolescentes para empregos com carteira assinada, sem prejuízo da continuação dos estudos deles.

 

A maioria é de famílias de renda muito baixa, que engrossam as filas de cadastros de empresas sem quase nenhuma chance, por falta de preparo. Segundo mostra nossa repórter Margarida Azevedo, em recentes reportagens no Jornal do Commercio, os cursos técnicos surgem então como uma possibilidade de adquirir pelo menos um mínimo de qualificação.

 

Mas profissionalização é impossível se esses adolescentes e jovens não tiverem educação básica. Daí os programas a que nos referimos incluírem ações destinadas a elevar o nível de escolaridade. A sensibilização dos empresários para a responsabilidade social e para a contratação dos que se formam nesses programas é outra de suas preocupações. Dos 450 garotos que participaram do Emprego Jovem no ano passado, somente pouco mais de 10% conseguiram trabalho. Outros exemplos de articulação de ONGs, programas oficiais e empresariado são o Projeto Informar, do Porto Digital (Recife Antigo) e a Ação em Rede pela Criança e o Adolescente (Arca). É preciso levar em conta que, nos países desenvolvidos, o número de técnicos é maior do que o de trabalhadores com formação universitária, enquanto no Brasil criou-se uma mentalidade que leva todo mundo a querer ser “doutor”. A implantação em Suape de uma refinaria de petróleo e um estaleiro constitui uma garantia de substancial demanda por técnicos “não-doutores”.[OLHO]