Inep: Enem não é adequado para certificar ensino
médio
07/11/ 2014
Documentos
internos do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep),
órgão do Ministério da Educação que organiza o Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), questionam a adoção das provas para a certificação de ensino médio.
Segundo nota técnica obtida com exclusividade pelo jornal O Estado de S.Paulo,
há “fragilidades pedagógicas” em usar o exame para a obtenção de diploma.
O estudo aponta
dificuldades de construir uma prova que certifique e também sirva para
selecionar alunos para o ensino superior, como acontece atualmente com o Enem.
O número de
participantes que solicitam a certificação tem aumentado a cada edição. No
exame deste ano, que ocorre neste sábado, 8, e domingo,
9, 997 mil candidatos se inscreveram com o objetivo de conseguir o diploma de
ensino médio. No ano passado, foram 784 mil, mas apenas 7,6% dos candidatos
conseguiram nota mínima para a certificação, segundo informações da ONG Ação
Educativa.
“Para as pessoas
que tiveram problema de acesso à educação, dificilmente elas vão conseguir
responder uma prova sofisticada como o Enem”, diz Roberto Catelli Junior,
coordenador da Educação para Jovens e Adultos (EJA) da Ação Educativa.
Em 2009, o Enem
foi reformulado, ganhou o formato atual e passou a ser usado como vestibular
por universidades federais. A partir daí, o exame também virou processo de
certificação e substituiu o Exame Nacional para Certificação de Competências de
Jovens e Adultos (Encceja) para o ensino médio.
As notas
técnicas mostram que a própria equipe do Inep apontou em “várias oportunidades”
problemas na certificação por meio do Enem. O documento da Diretoria de
Avaliação da Educação Básica (Daeb) do Inep de 2012 indica, além da fragilidade
pedagógica, a “dificuldade psicométrica de se construir uma prova que atenda
plenamente a dois objetivos distintos: certificação e seleção”.
Pontuação
O parecer é de
autoria da cúpula da Daeb. Na oportunidade, ao mesmo tempo em que reafirmam os
problemas, os técnicos indicaram que a nota mínima para certificação subisse
(leia mais nesta página). O documento recorre a estudo feito em 2010 pela
Coordenação Geral de Instrumentos e Medidas da Daeb, cuja conclusão era pela
separação do Encceja e do Enem.
Segundo o estudo
assinado por 30 técnicos do Inep, a matriz de conteúdos do Enem não contempla
especificidades da educação de jovens e adultos. “Ao unir o Encceja ao Enem
deixa-se de lado o objetivo principal do primeiro, que é avaliar as habilidades
e competências básicas de jovens e adultos que não tiveram oportunidade de
acesso à escolaridade regular na idade apropriada.”
Para Maria Inês
Pestana, ex-diretora da Daeb, oferecer a possibilidade de certificação pelo
Enem teve o objetivo de inclusão, mas o exame acabou se tornando uma ferramenta
muito voltada para a seleção de universitários. “Sempre foi um dilema, e a
decisão tomada foi pensando na inclusão. Mas tecnicamente seria ideal separar
as provas”, diz ela, hoje aposentada.
O presidente do
Inep, Francisco Soares, reconheceu que o tema é “controverso”, mas que a opção
de certificar é “segura”. “Como temos muitos itens na prova, de dificuldades
diferentes, podemos contemplar a certificação”, diz ele. “Não podemos ter dois
pesos e duas medidas sobre o que o concluinte deve saber.”
Para o professor
da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Alavarse, seria importante avaliar o
próprio exame para testar todas as suas funções. “Precisamos avaliar o que o
Enem está medindo”, diz.
Para a
consultora em educação Ilona Becskeházy, o ponto central é que não existe no
Brasil um currículo básico. “A desonestidade técnica e política é não ter
currículo.”
As informações
são do jornal O Estado de S. Paulo.
Fonte:
https://br.noticias.yahoo.com/inep-enem-%C3%A9-adequado-certificar-ensino-m%C3%A9dio-091600846.html