Índios aprovam implantação de escola de ensino médio
e técnico em aldeias do Estado
Demanda antiga da comunidade,
escola evitará que os adolescentes sofram preconceito ao saírem das aldeias
para completar seus estudos
11/03/2014
O
governo do Estado divulgou, na última semana, que será criada uma unidade
escolar de ensino médio na aldeia de Caieiras Velhas, em Aracruz, norte do
Estado. A Escola Estadual Indígena de Ensino Médio Caieiras Velhas será a
primeira escola do Espírito Santo a ofertar o ensino médio em uma aldeia e terá
a capacidade de atender até 500 alunos em três turnos, nas modalidades de
ensino médio regular e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Como
afirma Paulo Tupinikim, coordenador micro regional da Articulação dos Povos e
Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), o
número de vagas que será aberto com a construção da nova escola é suficiente
para atender aos adolescentes das aldeias Areal, Olho D’água, Piraqueaçu, Boa
Esperança, Irajá, Três Palmeiras, Pau Brasil e Caieiras.
Paulo
explica que a previsão do início da construção da nova unidade é para o segundo
semestre deste ano. Concomitantemente, as aulas já começarão a ser ministradas em um prédio de uma
escola de ensino fundamental, localizado na mesma aldeia e cedido pela
Prefeitura do município.
O
currículo da escola, que por ser indígena e rural possui métodos pedagógicos
diferentes das escolas urbanas, será amplamente discutido com a comunidade
composta pelas diversas aldeias atendidas pela unidade. Manter os adolescentes
indígenas nas aldeias, tendo uma educação que respeita e reafirma sua cultura,
é fundamental, como retrata Paulo. Segundo ele, os índios que, atualmente,
precisam sair das aldeias para dar continuidade aos seus estudos são, muitas vezes,
vítimas de preconceito e racismo.
Educadores
indígenas serão selecionados para compor a equipe pedagógica a partir de um
edital específico, que contemplará uma proposta pedagógica que se assemelhe à
realidade das comunidades indígenas do Estado. O governo informa que os
professores participarão de formações a fim de oferecer subsídios à adequação
dos currículos, e definição das metodologias e dos processos de avaliação que
atendam à Educação Escolar Indígena.
Além
disso, como detalha Paulo, há um processo de discussão com a Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes) para que os
professores que serão formados e até mesmo os graduandos do futuro curso de
Educação Indígena atuem na escola de ensino médio das aldeias. Esse trabalho,
que será desenvolvido como um projeto de extensão, já foi aprovado por todos os
departamentos relacionados à educação indígena na Ufes.
O
funcionamento ou não do curso de Educação Indígena da Ufes
aguarda parecer do Ministério da Educação (MEC), a partir da publicação do
edital de adesão das universidades brasileiras ao Programa de Apoio à Formação
Superior de Professores que Atuam em Escolas Indígenas de Ensino Básico
(Prolind), que acontecerá no próximo mês de abril.
O
curso de licenciatura em Educação Indígena será focado na formação dos próprios
índios que já atuam ou querem atuar nas escolas das aldeias de Aracruz e a
previsão é de que, em um prazo de cinco anos, o mesmo seja implantado nas
aldeias, na Base Oceanográfica da Ufes e no campus de
Goiabeiras.
Esse
curso é uma reivindicação antiga dos indígenas, que já tramitava internamente
na universidade desde junho do ano passado. O curso nasceu a partir do terceiro
projeto desenvolvido pelos próprios indígenas e apresentado à Ufes. Os anteriores foram recusados.
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