Greve paralisa
50% das técnicas federais
30/08/2011
Iniciado há 1 mês, protesto de professores e
funcionários por falta de infraestrutura, entre
outros motivos, atinge 220 dos 403 câmpus do País
Mariana Mandelli e Ocimara Balmant, Especial para o Estado Mais da metade dos câmpus dos institutos federais e dos Centros Federais de
Educação Tecnológica (Cefets) estão sem aula. A greve
de professores e funcionários começou no início do mês, com a volta das aulas,
e a adesão tem crescido. Dos 403 câmpus do País, 220 estão com as atividades paralisadas - total ou parcialmente
-, segundo o sindicato dos servidores da categoria, o Sinasefe.
Dentre os motivos da greve estão a reivindicação
salarial, a reclamação por falta de infraestrutura
básica de funcionamento de várias unidades e a posição contrária dos servidores
à expansão da rede federal de ensino.
Na Paraíba, segundo o sindicado, os 9 câmpus estão parados. Em Alagoas, a situação é parecida,
assim como em São Paulo e em Goiás - há paralisações, de acordo com o sindicato
regional, nos câmpus das cidades de Uruaçu, Anápolis,
Formosa, Inhumas, Itumbiara, Jataí, Luziânia, Rio Verde, Urutaí
e Goiânia. "Temos câmpus funcionando no mesmo
espaço em que já existe um albergue", diz Nilton Gomes Coelho, presidente
do sindicato do Estado de Alagoas. Por lá, diz Coelho, todos os câmpus têm focos de paralisação, a maioria com 90% das
atividades paradas. Alguns deles funcionam em prédios sem laboratórios e com frequentes quedas de energia e falta de água."Isso
acontece porque criaram o instituto, mas não construíram estrutura nenhuma, fomos
colocados em prédios adaptados", afirma.
Os 38 institutos federais foram criados em 2008, com a finalidade de oferecer
ensino médio agregado à formação técnica, além de cursos superiores. Eles
atendem 420 mil alunos e a rede vai aumentar: deve chegar a 600 mil matrículas
em 2014. Os sindicatos afirmam não ser contra a expansão, mas reivindicam uma infraestrutura melhor e mais
servidores. "A expansão é promissora e valorizou o ensino, mas
falta assistência", diz Rosane de Sá, coordenadora do sindicato dos
servidores de Goiás. A falta de docentes concursados também afeta a qualidade
do ensino, segundo os sindicatos. "Precisamos mais concursos para efetivar
mais docentes", diz o professor Laerte Moreira, do sindicato paulista.
A greve afeta a vida dos alunos. Victor Gaspar estuda no Instituto Federal de
São Paulo e, desde o início do semestre, só tem as aulas dos professores
temporários, que não podem aderir à greve. "Tenho aula de matemática e
química, mas não a de física e nem a de eletricidade básica", disse ele,
que é aluno do ensino médio integrado à mecânica. Salários. A questão salarial
está em parte ajustada. Na sexta-feira passada, dia 26, foi assinado um acordo
entre os Ministério do Planejamento e da Educação com
o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).
Os professores aceitaram 4% de acréscimo, mas afirmam que a proposta não
recupera as perdas salariais dos últimos anos e pedem a retomada das
negociações - a reivindicação é de 14,67% de reajuste.
A questão do reajuste dos funcionários é mais complexa porque ainda não há
acordo e a data-limite para envio do orçamento a ser votado pelo Congresso é
amanhã, dia 31. "Está em cima da hora, por isso é difícil que
aconteça", diz Cláudio Koller, reitor do
Instituto Federal Catarinense e diretor administrativo do Conselho Nacional das
Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica
(Conif). Koller esteve
ontem com o ministro da Educação, Fernando Haddad. Segundo ele, Haddad
constituiu um grupo de estudo e receberá o comando de greve na próxima semana.
De acordo com a assessoria de imprensa do Ministério do Planejamento, havia
negociação entre a pasta e o Sinasefe, mas essa
"foi suspensa de forma unilateral" porque o sindicato se retirou do
processo de negociação e decidiu pela greve. Ainda segundo a assessoria, o
governo entende que a "greve é uma manifestação de conflito" e, desde
então, não houve mais negociações.
PARA LEMBRAR: Programa vai expandir a rede - O programa de expansão dos
institutos federais prevê a criação de mais 180 mil vagas no País. De acordo
com o MEC, serão 88 câmpus até o final de 2012 e mais
120 até 2014, o que totaliza 208 novas unidades. Somando o número às 354 já
inauguradas, serão 562 câmpus e 600 mil alunos. Em
abril, o governo federal anunciou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego (Pronatec), iniciativa que objetiva
a formação de mão de obra qualificada por meio de capacitação técnica e profissional.
O programa é uma promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff
e promete ofertar, em quatro anos, 3,5 milhões de bolsas para jovens do ensino
médio, beneficiários do Bolsa-Família e reincidentes
do seguro-desemprego. O objetivo é que 8 milhões de
pessoas tenham acesso à educação profissional de qualidade no País.
Crescimento: - 178 câmpus faziam parte da rede
federal de escolas técnicas em 2008. - 354 é o número do fim de 2010, com a
expansão da rede - que se deu com a criação dos institutos federais de ensino.
O Estado de São Paulo