Greve no Projovem é reflexo da falência do
projeto
01/06/2011
Docentes do programa na Capital paralisaram por falta de
pagamento. Alunos também não têm recebido a bolsa-auxílio de R$ 100
Os professores
do ProJovem Trabalhador da
Capital decidiram paralisar as atividades devido ao atraso no pagamento de
abril. Prejuízo para os alunos, que, não bastasse o atraso no pagamento da
bolsa-auxílio – desde janeiro, só uma parcela de R$ 100 foi depositada –, agora
estão sem aulas.
– Os alunos estão apoiando a
greve dos professores. Eles não estão recebendo e gastam com almoço, passagem –
afirma Sheila Passaglia, 29 anos, aluna do curso de Administração, na Escola
Itália, na Zona Norte.
Alunos estão abandonando
Sem receber a
bolsa-auxílio, muitos estudantes estão abandonando as salas de aula. A turma de
Sheila, que iniciou o curso com 30 alunos em janeiro, hoje só tem dez.
– Esse dinheiro faz falta. Eu deixo de fazer uma faxina para estar aqui
aprendendo. O ministro (Carlos Lupi, do Ministério do
Trabalho e Emprego) diz que tem serviço sobrando e que falta gente qualificada,
mas a gente está tentando se qualificar. Queremos que cumpram o prometido –
desabafa a estudante Carla Beatriz Marques de Jesus, 28 anos.
"Para nós, é
humilhante"
O professor de
Telemarketing Eduardo Maurício Dias, 38 anos, confirma a evasão de alunos. No início
das aulas, a turma tinha 35 estudantes. Hoje, há dez:
– Os alunos estão desmotivados.
Para muitos, a bolsa-auxílio é complemento do Bolsa
Família.
Sobre o atraso
no salário, Eduardo desabafa:
– Para o professor, é humilhante.
Nossa autoimagem está sendo destruída.
Fundação é a encarregada
Na Capital, o
programa é coordenado pela Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão da Unisul/SC (Faepesul), que
recentemente enfrentou paralisação de professores do ProJovem Urbano, por falta de pagamento. A Secretaria
Municipal da Juventude (SMJ) diz que a Faepesul é a
responsável pela contratação e pagamento dos professores.
A SMJ estuda
fazer o pagamento diretamente para os docentes, com autorização da Justiça,
como fez no caso do ProJovem
Urbano. A despesa mensal com os salários de 22 professores soma R$ 32 mil.
Bolsa-auxílio será paga em três
dias
O titular da
SMJ, Luizinho Martins, afirma que incorreções nas listas de presença geraram o
atraso no pagamento da bolsa-auxílio mensal no valor de R$ 100 para cada aluno.
Luizinho diz
que a SMJ foi procurada por estudantes reclamando terem estado em aula, quando
nas listas constava falta. A frequência dos alunos
sai das mãos do professor, passa para a Faepesul e,
por fim, pela SMJ, que autentica antes de encaminhar ao Ministério do Trabalho
e Emprego, que libera, então, a verba. O secretário garante que o problema foi
solucionado e que, em três dias, a contar de hoje, os alunos receberão todos os
pagamentos.
Faepesul
e SMJ: divergências
O diretor da Faepesul, Carlos Alberto Nogueira de Sá, diz que, pelo
contrato, a fundação deveria receber 20% do valor total antes do início das
aulas - para a aquisição de materiais –, e o restante em sete parcelas. Ele
afirma que a Faepesul só recebeu duas parcelas. O
valor total, para atender 1,7 mil alunos, fica em torno de R$ 2,3 milhões.
– A última vez que recebemos foi
em novembro. Houve uma evasão grande, mas foram recrutados mais de 1,6 mil.
Tudo foi adquirido para 1,7 mil alunos. Temos que estar preparados para esse
número.
De acordo com
a SMJ, porém, o valor já repassado é suficiente para cobrir a despesa com os
600 alunos efetivamente matriculados. Hoje, Faepesul,
SMJ e a Procuradoria Geral do Município devem discutir o impasse.
Entenda o caso
O ProJovem Trabalhador recebeu 2,2
mil inscrições no ano passado. Destes, 1,7 mil alunos fizeram a matrícula.
O início das
aulas estava previsto para o mês de agosto, o que não ocorreu. Segundo a SMJ,
apenas 600 estudantes começaram o curso em janeiro deste ano. Atualmente, o
secretário Luizinho diz que o ProJovem
Trabalhador atende a 500 estudantes.
No ano
passado, o Ministério do Trabalho e Emprego destinou R$ 1.337.879,82 à
prefeitura. A primeira parcela, no valor de R$ 121.625,44, em outubro, e a
segunda, de R$ 1.216.254,38, em setembro. Do total, R$ 1,118
milhão foram repassados à Faepesul para adquirir
materiais de gestão e apoio para 1,7 mil estudantes.
Desde
dezembro, conforme o secretário Luizinho, a Faepesul
não recebe repasses. Para a SMJ, os valores já recebidos no ano passado seriam
suficientes para o atendimento de 600 alunos em todo o curso. Atualmente,
técnicos da Secretaria Municipal da Fazenda estão fazendo cálculos para
verificar se a SMJ deve algo à Faepesul ou não.
A SMJ diz que
já pagou 41% do custeio do ProJovem
Trabalhador. A Faepesul diz que foram 21%.
DIÁRIO GAÚCHO
Fonte: