Graças
à classe C, cresce no Brasil procura pela educação profissional
08/02/2012
Mas
ainda há grande falta de interesse, revela pesquisa feita pela FGV, CNI e Senai
BRASÍLIA
- A quantidade de pessoas que frequentam cursos profissionalizantes aumentou
entre 2002 e 2010, principalmente na classe C, mas a maioria da população
brasileira ainda não tem interesse pela educação profissional. Ou seja, a
oferta de novos cursos não vai levar necessariamente a uma demanda maior no
país. As conclusões são da pesquisa "As Razões da Educação
Profissional", feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), pelo Senai e pela Confederação Nacional
da Indústria (CNI), e divulgada na manhã desta quarta-feira. O levantamento
revelou ainda que o pico de procura por cursos profissionalizante se dá aos 15
anos. O maior salto na procura dos cursos profissionalizantes se deu entre 2004
e 2007. Nesse período, o número de pessoas com dez anos ou mais que
frequentavam ou já tinham frequentado cursos de educação profissional saiu de
14,5% para 23,78%. O índice chegou a 24,81% em setembro de 2010. Atualmente, na
classe C, 7,99% das pessoas entre 15 e 29 anos estão frequentando cursos de
educação profissional. Nas classes A e B, são 7,13%, na D, 5,55%, e na classe
E, 3,85%.
O
diretor de Educação e Tecnologia da CNI, Rafael Lucchesi, acredita que o
crescimento da educação profissional na classe C reflete uma mudança cultural.
A nova classe média, em sua avaliação, vê o ensino profissionalizante como caminho
para a mobilidade social. - A classe C está buscando novas conexões. Ela está
procurando seu próprio enredo de mobilidade social. Entre as pessoas que não
fizeram esse tipo de curso, a principal razão é a falta de interesse, com 68,8%
das respostas. Em seguida vem a falta de renda
(14,17%). Em terceiro lugar, está a falta de cursos disponíveis (10,47%),
destacando-se a falta de escolas (8,64%), de cursos (1,4%) e de vagas (0,43%).
Quanto maior a renda, maior o peso da falta de interesse - 82,16% nas classes A
e B e 52,37% na classe E. Por outro lado, quanto menor a renda, maior o peso da
falta de cursos na região - 16,43% na classe E e 2,03% na classe AB.
Marcelo
Neri, do Centro de Políticas Sociais da FGV, destacou que a falta de interesse
pode ser explicada pela falta de informação, uma vez que as pessoas com curso
profissionalizante têm remuneração maior do que aquelas que nunca frequentaram
um. Ele acredita que existe um estigma no Brasil contra a educação profissional
e que não adianta apenas atacar a falta de oferta. - Como diria Mané Garrincha,
falta combinar com os russos. Se você não tiver convencido os jovens, não vai
resolver. Você tem que conquistar os jovens. Já entre as pessoas que começaram
a fazer cursos de educação profissional, 8% não concluíram. Novamente, a falta
de interesse pelo curso foi o principal motivo (54,6%), seguido de problemas
familiares (34,8%), relacionados à renda (8,9%) e a distância até o local onde
o curso é oferecido (1,9%). O levantamento também revelou que 62,58% dos egressos
dos cursos de qualificação profissional trabalham na mesma
área. Segundo a pesquisa, esse percentual é maior entre os cursos do sistema S
do que nos cursos privados ou públicos.
Entre
os que não trabalham na área do curso que frequentaram, os principais motivos
são melhores oportunidades em outros setores (31,86%), e a falta de vagas na
área de formação (30,7%). Por estado, Roraima é proporcionalmente o lugar onde
há mais alunos frequentando cursos de educação profissional: 5,62% da população
com 10 anos ou mais. Entre as capitais, Boa Vista é a campeã, com um índice de
6,48%. Já a maior falta de interesse entre os que não frequentam cursos
profissionalizantes se dá no Rio de Janeiro: 83,6%. As principais bases de
dados usadas no levantamento foram a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) de 2007, a Gallup World Poll, que reúne dados de famílias de 132 países, e a
Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Tanto a Pnad quanto
a PME são feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
André de Souza
O Globo - Rio de Janeiro RJ