Folha de São Paulo, 02/09/2003 - São Paulo SP

Governo lança plano para alfabetizar adultos

Brasil Alfabetizado, que atua em parceria com entidades, Estados e municípios, prevê atender 20 milhões de analfabetos até 2006

Luciana Constantino da Sucursal de Brasília

 

Tentando evitar críticas semelhantes às que recebeu o Fome Zero, o governo Luiz Inácio Lula da Silva vai anunciar seu programa de erradicação de analfabetismo entre adultos quase nove meses após o início de sua implantação. O Brasil Alfabetizado, programa que prevê atender 20 milhões de analfabetos maiores de 15 anos até 2006, será lançado oficialmente por Lula no dia 8, quando começa uma campanha nacional. Apesar de na prática já estar sendo desenvolvido desde janeiro, o projeto terá mais divulgação a partir de agora. Foram assinados 37 convênios para alfabetizar 1 milhão de alunos em 1.768 municípios do país. O governo espera ainda fechar parcerias para atender pelo menos mais 1,2 milhão de pessoas até o final do ano. O Brasil Alfabetizado trabalha em parceria com entidades e governos municipais e estaduais que já têm experiência em alfabetização de jovens e adultos. Essas entidades apresentam projetos, nos moldes determinados pelo Ministério da Educação. Não é necessário adotar um método específico de alfabetização, mas a proposta pedagógica      deve comprovar que os alunos alfabetizados serão capazes de produzir, ler e interpretar textos, além de fazer operações matemáticas básicas, como soma e subtração. "Para a instituição receber a última parcela, os alunos deverão escrever uma carta, que também será comparada ao seu histórico. Queremos que os alfabetizados tenham condição de pegar um ônibus ou ler uma placa, coisas do dia-a-dia", disse o secretário de Erradicação do Analfabetismo, João Luiz Homem de Carvalho. A duração do curso depende da proposta pedagógica, mas a média é de seis a oito meses de aula, com turmas de 15 a 25 pessoas. O governo paga ao alfabetizador R$ 15 mensais por estudante atendido. A instituição recebe ainda recurso para capacitar o alfabetizador, que não precisa ser, obrigatoriamente, um professor.

 

O MEC pretende gastar neste ano cerca de R$ 200 milhões no programa. Pretende atender 3 milhões de pessoas, sendo 2,2 milhões com recursos federais e o restante por meio de entidades, Estados e municípios. De acordo com Carvalho, levantamento feito pelo ministério detectou        que 351.391 alunos foram alfabetizados no primeiro semestre por 23 entidades e outros 379 mil farão o curso até dezembro. Esses estudantes entrarão na contabilidade do Brasil Alfabetizado. Para coordenar as ações e levantar o total de pessoas que estão em processo de alfabetização, o Ministério da Educação está fazendo um censo, que deverá ser divulgado em novembro. Segundo o "Mapa do Analfabetismo no Brasil", divulgado no primeiro semestre, dados de 2000 apontam que são 16 milhões de analfabetos acima de 15 anos que não sabem ler e escrever um bilhete simples. Se contabilizados os analfabetos funcionais (com menos de quatro séries de estudo concluídas), esse número sobe para 30 milhões. Para tentar evitar a duplicação de nomes em cursos de alfabetização ou algum outro tipo de fraude no Brasil Alfabetizado, o Ministério da Educação criou uma página na internet em que constará o cadastro de todos os estudantes, entidades e alfabetizadores envolvidos no programa. Mais informações sobre o programa podem ser obtidas no site www.mec.gov.br ou pelo telefone 0800-616161