Maria Cecilia de Castello
Branco Fantinato. Identidade
e Sobrevivência no Morro do São Carlos: representações quantitativas e
espaciais entre jovens e adultos.. 01/04/2003
1v. 1p. Doutorado. UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - EDUCAÇÃO
Orientador(es): Maria do Carmo Santos Domite
Biblioteca Depositaria: FEUSP
Email do autor:
mcfantinato@hotmail.com
Palavras - chave:
etnomatemática, educação de jovens e adultos, pesquisa etnog
Área(s) do conhecimento:
EDUCAÇÃO DE ADULTOS
MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO
Banca examinadora:
Ubiratan D`Ambrosio
Linha(s) de pesquisa:
Ensino de Ciências e Matemática. Tem por objeto de investigação a gênese dos conceitos científicos, os processos de ensino que conduzem a uma aprendizagem significativa, as inter-relações entre a língua corrente e as linguagens científicas e os currículos de Ciências e de Matemática.
Dependência administrativa
Estadual
Resumo tese/dissertação:
Este trabalho procura compreender as relações entre os conhecimentos matemáticos construídos por jovens e adultos trabalhadores na vida cotidiana e os conhecimentos matemáticos escolares, no momento de retorno dos mesmos ao ensino fundamental. Desde o início estávamos conscientes das contradições - já reveladas em outros trabalhos do tipo - entre a existência de formas próprias de raciocínio matemático por educandos jovens/adultos, e algumas dificuldades apresentadas pelos mesmos diante da linguagem matemática escolar. Para tal, foi desenvolvida uma pesquisa etnográfica no morro de São Carlos, Rio de Janeiro, acompanhando a rotina local de um curso de educação de jovens e adultos, assim como aspectos da vida diária dos alunos e da vida comunitária na favela. Buscamos estabelecer uma atitude dialógica na relação pesquisadora/pesquisados, que se revelou fundamental para a aproximação da pesquisadora do universo da pesquisa, através da dinâmica de estranhamento do familiar e familiarização com o estranho. A etnomatemática, como uma perspectiva de compreender as raízes socioculturais do conhecimento matemático do grupo, tem sido nosso campo de estudo em termos de fundamentação teórica. Partimos de um enfoque mais abrangente, abordando representações quantitativas e espaciais sobre alguns aspectos do cotidiano do morro, encaminhando modos de analisar os processos de construção/representação/utilização de conhecimentos matemáticos pelos educandos adultos, em contextos escolares e extra-escolares. Os resultados indicaram uma estreita associação entre o uso de habilidades matemáticas no cotidiano com a necessidade de garantir formas de sobrevivência, via administração de um orçamento reduzido. Fatores afetivo-emocionais revelaram-se como impulsionadores de algumas estratégias envolvendo raciocínio matemático. Entre elas, notou-se o ato de arredondar para cima a previsão do montante a pagar, evitando-se o constrangimento de que o dinheiro disponível não seja suficiente. Da mesma forma observou-se a prática de confirmar um resultado de cálculo pelo uso de dois procedimentos diferentes, por não se confiar o suficiente em apenas um. Algumas dessas estratégias, foram interpretadas por nós como sendo motivadas pela necessidade de se proteger de situações humilhantes, que afetariam a auto-estima desses educandos jovens/adultos. Para os jovens e adultos pesquisados, o mundo da escola e o mundo da vida cotidiana apareceram como separados, assim como os conhecimentos matemáticos pertencentes a um ou outro contexto. Enquanto na vida prática calcula-se para sobreviver, na escola busca-se adequar a um modelo que exige precisão nos resultados. A pesquisa destacou a predominância de aspectos socioeconômicos nos processos de construção/representação/utilização de conhecimentos matemáticos num contexto urbano, evidenciando esse aspecto como significativo fator de identidade, superando os fatores exclusivamente culturais.