Experiências de estímulo à leitura são debatidas em Belém
03/12/2009
Belém — Despertar o hábito de ler em pessoas que só conheceram as primeiras palavras escritas na juventude ou na vida adulta foi assunto de debate na quarta-feira, 2, na 6ª Conferência Internacional de Educação de Jovens e Adultos (Confintea), em Belém. Reunidos na oficina Cultura da Leitura e Ambiente de Leitura para Jovens e Adultos, mediada pela princesa Laurentien, da Holanda, expositores e participantes dos cinco continentes expuseram problemas e experiências bem-sucedidas em seus países.
Da organização indiana Planet Read, cujo lema é Leitura para um Bilhão, Brij Khothari relatou que muitos indianos estão reforçando as habilidades de leitura por meio da televisão. “Constatamos que 700 milhões de pessoas tinham acesso à tevê e assistiam às produções nacionais de cinema”, afirmou. Muito populares no país, os filmes indianos frequentemente trazem música e dança em dialetos locais — são 22 no país. Para atrelar a leitura a um hábito de vida de muitos indianos, a organização resolveu colocar legendas nos filmes. “Assim, a pessoa pode fazer o que gosta e, ao mesmo tempo, ler o que o ator está falando ou cantando.”
A maioria dos participantes concordou que o hábito de leitura precisa estar ligado a áreas de interesse do leitor. A canadense Ellen Szita, da organização não governamental Lifelong Learning for Women, revelou que o neto só aprendeu a ler depois de o professor apresentar a ele textos sobre hóquei, o esporte preferido do garoto.
De acordo com Brij, em países como a Índia, com grande população e crescente interesse por mídias como a tevê e a internet, não se pode desprezar o alcance dos meios digitais e o apelo que têm com o público jovem e adulto. “É nisso que as pessoas estão interessadas”, destacou. Na Índia, atestou Brij, as legendas na televisão ajudaram cerca de 200 milhões de pessoas a ler melhor.
Continuidade — Na Nicarágua, a continuidade nos estudos em escolas públicas reforçou a capacidade de ler de jovens e adultos. Segundo Odilí Rios, especialista da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 500 mil pessoas recém-alfabetizadas, 38% demonstraram saber ler apenas informações muito básicas, como letreiros de lojas e ônibus. “Descobrimos que aquelas que liam com fluidez continuaram a estudar depois da alfabetização”, disse. Na opinião de Odilí, está claro que o processo de leitura é gradual. “A pessoa vai reforçando o conhecimento ao longo da vida, se estiver exposta a ambientes estimulantes.”
A fim de estimular a leitura pelo tradicional uso dos livros didáticos e de literatura, a princesa Laurentien destacou que os livros destinados a leitores em formação nessa faixa etária não podem ser os mesmos das crianças. “Devemos levar em consideração o modo de pensar do adulto”, avaliou.
Nesse caso, o Brasil está avançando, de acordo com a coordenadora-geral de formação e leitura da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) do Ministério da Educação, Carmem Gato. “Já estamos na terceira edição do Prêmio Literatura para Todos, que premia autores de livros específicos para esse público”, afirmou.
Maria Clara Machado
Palavras-chave: Confintea, Belém, leitura, oficina
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