Expansão agrava carências das escolas técnicas estaduais

Fatecs e Etecs enfrentam falta de funcionários, baixos salários e material defasado. O plano de ampliação da gestão do governador José Serra (PSDB) tem como meta passar das 26 Fatecs de 2006 para 52 em 2010

Folha de Sâo Paulo, 12/03/2008 - São Paulo SP

FÁBIO TAKAHASHI DA REPORTAGEM LOCAL

Falta de funcionários, baixos salários e equipamentos defasados: estes são alguns dos problemas enfrentados pelas escolas de ensino técnico mantidas pelo governo estadual. A ampliação das Etecs (escolas técnicas) e Fatecs (faculdades de tecnologia) é uma das prioridades do governador José Serra (PSDB), sob a justificativa de que falta mão-de-obra qualificada no mercado. A expansão desse sistema, porém, potencializou as carências. O quadro de funcionários é um exemplo. Entre 2005 e 2007, o número de Etecs e Fatecs cresceu 33,6% -a expansão foi iniciada no governo Geraldo Alckmin (PSDB)-, enquanto a quantidade de técnicos-administrativos chegou a cair 0,27%. O vice-governador e secretário de Desenvolvimento, Alberto Goldman, admite que há problemas no sistema, mas afirma que irá resolvê-los em breve. No plano de expansão, uma das metas é duplicar o número de Fatecs (de 26 unidades em 2006 para 52 em 2010). Nas Etecs, o objetivo é chegar a 177 mil alunos (hoje são 66 mil). A falta de servidores é sentida no dia-a-dia dos alunos. Na Etecap (Escola Técnica de Campinas), eles chegaram a fazer um protesto no final do mês passado, por estarem impedidos de usar a biblioteca, que estava sem funcionário. "Estamos privados de vários direitos, como fazer pesquisa na biblioteca", disse Guilherme Henrique de Oliveira, 15, do segundo ano do ensino médio. Os alunos apontam outros problemas, como falta de papel sulfite. Além disso, parte dos gastos da unidade é bancada pelas contribuições dos próprios estudantes à APM (associação de pais e mestres). "Expandir as Fatecs e Etecs é positivo, mas o governo não dá condições para manter a qualidade de ensino", disse a presidente do Sinteps (sindicato dos professores e funcionários do sistema, filiado à CUT), Neusa Santana Alves. "Fica parecendo apenas um projeto eleitoreiro." A categoria fez uma greve na semana passada, exigindo reajuste salarial. Os professores das Fatecs e Etecs ganham menos até que os docentes das escolas básicas estaduais. Considerando a hora-aula dos profissionais, o rendimento inicial dos docentes das faculdades de tecnologia (que precisam ter mestrado) é 18% menor do que o dos colegas do ensino regular (que devem possuir apenas o curso superior). O docente da Fatec que trabalha 40 horas por semana tem um salário inicial de R$ 1.780. Como o governo prometeu enviar à Assembléia um projeto de lei que cria o plano de carreira para os servidores, eles decidiram suspender a paralisação. Quando aprovada a proposta, a gestão Serra diz que haverá reajuste para toda a categoria. "A nossa preocupação é que a expansão, que é positiva, prejudique essa qualidade, pela forma como está sendo feita", disse o presidente da Adfatec (associação dos docentes das Fatecs), José Roberto de Souza. Colaborou KARIN BLIKSTAD