Agência Estado, 27/08/2006 - São Paulo SP
Estudantes ressaltam lógica em questões
do Enem
Estudantes do ensino médio reclamam encontrar na prova temas ainda não
estudados por eles
Evandro Fadel, Elder Ogliari
e Eduardo Kattah
CURITIBA - Os primeiros alunos que deixaram as salas das Faculdades Santa Cruz, no Bairro Capão Raso, em Curitiba, depois de terem feito as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), registraram o caráter lógico das questões. "Quem teve calma e concentração foi bem", afirmou Kelly Vanessa Fernandes. Ela estuda no Colégio Rio Branco e se prepara para os vestibulares de Publicidade e Educação Física. A estudante de Paranavaí, no noroeste do Paraná, Lígia Oliveira, também ressaltou que as questões eram mais de "raciocínio e análise". "Não achei que estava difícil", disse. Para ela, o tema Leitura para a redação também foi muito bom. "Desperta os jovens para a necessidade de ler", afirmou. "Estava muito fácil", disse Bruno Stafriet, o primeiro a deixar o local. Pretendendo realizar Comércio Exterior, ele acredita que sai com vantagem depois das provas. Quem não se saiu bem foi Lídio Carlos, do Colégio Olindamir Merlin, do município de Fazenda Rio Grande. "Metade foi no chute", lamentou. Segundo ele, algumas questões, sobretudo de geografia, ele nunca viu na escola.
Dificuldades - Em Minas Gerais, 431,2 mil estudantes se inscreveram para participar, do Enem. As amigas Karem Kamal e Flaviana de Lourdes, ambas de 18 anos, estavam desanimadas quando deixaram, por volta das 16h, as dependências da Uni-BH, uma das 38 instituições de ensino que cederam suas salas como locais de prova em Belo Horizonte. "Foi horrível, a prova foi muito cansativa", lamentou Karem, aluna do 3º ano do ensino médio de da escola estadual Maria Andrade Resende. Na opinião dela, o principal problema estava na formulação das 63 perguntas de múltipla escolha. "As questões tinham um enunciado muito grande. Você se perde na hora de ler. Quando eu cansei, saí marcando qualquer uma", admitiu. Flaviana fez coro a uma reclamação freqüente dos estudantes que estão concluindo o ensino médio. "Caiu muita coisa na prova que eu não estudei ainda".
Lorena Amanda Milton Ventura, 18 anos, confessou que ficou tensa e esperava encontrar mais facilidade. "Estava meio difícil. Achei complicado o tema da redação. Eu estava esperando uma coisa mais fácil", disse ela, que estuda numa escola municipal de Belo Horizonte. Estudantes que se submeterem ao Enem em Porto Alegre consideraram a prova difícil. À saída do Colégio Estadual Florinda Tubino Sampaio, no bairro Petrópolis, a maioria admitia que a aplicação de conhecimentos específicos, como cálculos; a temas atuais, como uso de recursos minerais, foi um complicador. Também reconhecia problemas para resolver as questões interpretativas. "Teve textos que eu não entendi, sobre meio ambiente, efeito estufa", confessou a recepcionista Mariana dos Santos, de 19 anos, que usou um trem e um ônibus para se deslocar de Sapucaia do Sul, na região metropolitana, para o local do exame, e encarou a prova como um dos passos necessários ao sonho de cursar a faculdade de Direito com bolsa de estudos.
Ex-estudantes há anos prestam o exame - O projeto de ingressar num curso universitário é compartilhado por Maria Lúcia Ferreira, de 55 anos, que trabalha num projeto social com população de rua e quer fazer vestibular para Pedagogia. "Os textos estavam muito intricados para minha compreensão", avaliou, sem esconder um certo nervosismo. Assim como Maria Lúcia, diversas pessoas que já concluíram o segundo grau há alguns anos prestaram o exame com a expectativa de se habilitar a receber auxílio do ProUni para freqüentar um curso de nível superior. É o caso da técnica em radiologia Mari Speck, de 39 anos, que não estuda há 20 anos e sonha com o diploma superior de Enfermagem "para melhorar de vida".
Retardatários - Como normalmente acontece, não faltaram reclamações de estudantes que chegaram atrasados e não puderam fazer as provas. Nara Lúcia Ferreira, de 25 anos, aluna do segundo período do curso de direito da faculdade particular Arnaldo Janssen, em Belo Horizonte, ficou revoltada por não conseguir acesso ao local da prova. De acordo com um dos coordenadores, os portões da faculdade Estácio de Sá, na cidade, foi fechado após um período de "tolerância", às 13h15. Nara se inscreveu no Enem com o objetivo de conseguir uma bolsa do Programa Universidade para Todos (ProUni). Moradora da cidade de Vespasiano, na região metropolitana, ela reclamava que nem na ficha de inscrição e nem no "Manual do inscrito e questionário sócio-econômico" havia informações sobre algum "prazo de tolerância".
"Se alguns entraram depois das 13h, eu também tenho esse direito", disse a universitária, que afirmou ter chegado ao local por volta das 13h20. Nervosa, ela chegou a ligar para o número 190, mas foi informada de que sua reclamação não era "caso de polícia". "Eu preciso do Enem para conseguir entrar no ProUni e continuar na faculdade", lamentou. Também aluno da faculdade Arnaldo Janssen, onde cursa o 2º período de administração ambiental, Lúcio José Ramos de Paula, 33 anos, estava mais resignado. A exemplo de Nara, ele se inscreveu no Enem para tentar conseguir uma bolsa por meio do ProUni. "Cheguei e tinha um cara fechando o cadeado do portão, que não me deixou entrar", contou Lúcio.